sexta-feira, 16 de março de 2012

Santidade não tem idade!!!

                                                SANTIDADE NÃO TEM IDADE                                     

                                                            

Muitas vezes, a busca frenética pela felicidade não encontra os verdadeiros meios para atingi-la. Até dizemos cantando que “amar não é pecado”! Verdadeiramente, “amar não é pecado!”. Pecado é a maneira como, em não raras oportunidades, queremos demonstrar que amamos alguém. Pecado é amar segundo as veleidades de nossas presunções egoístas e interesseiras, mal intencionadas. Sem dúvida, a modernidade tem nos apresentado um universo fútil e medíocre onde os autênticos valores da dignidade humana já se perderam na voracidade inconsequente dos anseios ateus da realização humana sem Deus.


No garimpo desértico da humanidade hodierna, o testemunho de Carlo Acutis, um jovem italiano, filho de uma família cristã da Arquidiocese de Milão, devorado pelo acometimento de uma leucemia implacável e deletéria, é não somente edificante, mas, sobretudo, reflexivo, isto é, mergulha nossa alma e nosso espírito nos desvãos escondidos de nossa interioridade face aos apelos divinos à santidade, um estágio de vida espiritual, que não tem idade, o que significa dizer que a santidade não tem prazo de validade. Qualquer tempo é tempo de vivência generosa, fiel e alegre à incondicional amizade com Cristo, o “único amigo de nossa existência”, como diria o Cardeal Van Thuan, já servo de Deus, cuja causa de beatificação está em andamento. Curiosamente, o jovem oferecera sua vida e o seu sofrimento pela Igreja e pelo Papa. Imaginem, que oferecimento! Não quero ser presunçoso, muito menos comparar-me à generosidade desse jovem, mas ele me fez lembrar do breve discurso que eu disse ao Santo Padre, o Papa Bento XVI, na praça do Vaticano, no dia 15 de junho de 2005: “Santidade, sou um sacerdote brasileiro, e oferecerei todos os meus sacrifícios pelo seu pontificado e pela sua missão”. Sua resposta foi breve, mas significativa: “Obrigado pelo afeto!”. No mês seguinte, eu fui à África, e fui agredido pela terrível doença chamada malária, uma perturbação da saúde que pode matar em pouco tempo. Vá fazer determinadas promessas! Não obstante tudo, a consciência de que o Papa sempre precisa ser sustentado pela oração e pelo sofrimento dos cristãos, que se unem ao Cristo sofredor por meio de suas aflições, é um gesto sincero do dever dos seguidores de Cristo.


A Igreja de Jesus tem sido tão maltratada, perseguida e violentada pelos seus inimigos, que somente a serenidade interior dos cristãos convictos pode ser uma resposta válida e corajosa diante dos lobos ferozes que se encontram à espreita dos amigos de Cristo. Depois de fazer a sua primeira comunhão, Carlo Acutis nunca mais deixou de ter o seu encontro diário com o Cristo-Hóstia, o Homem discreto da Eucaristia, que não afasta de si nenhum dos que se aproximam dele com sinceridade de coração. Pena que, hoje, até mesmo a “primeira comunhão” tenha se tornado uma espécie de comércio, especialmente, em colégios particulares onde o “quite eucaristia” custa tão caro no pacote da escolaridade que o preço de Cristo não encontra um valor à altura de sua Pessoa, nem de sua dignidade, nem do preço que ele pagou por cada um dos homens que o rejeitam tanto! Quanto vale a Eucaristia, se até o paganismo moderno também se apropriou dela sem a devida autorização de quem de direito ou, o que é pior, com a conveniência comercial das autoridades constituídas da Igreja que nunca levaram a sério a questão e deixam que cada gestor das escolas particulares a faça, com rápida preparação, inclusive, impingindo o batismo dos alunos não batizados, por emergência do momento, sem a devida preparação.


Carlo Acutis, morto em 2006, aos 15 anos de idade, deixa-nos o legado de seu testemunho destemido, mormente, para a nossa juventude, tão perdida nos imperativos hedonistas da prevaricação do comportamento segundo a vontade de Cristo e de Deus. Seu testemunho é também a certeza de que, nas fileiras dos soldados de Cristo, espalhados por toda a terra, há muita gente, também, jovens, que levam Jesus Cristo a sério e se dispõem a dar a vida por Cristo e pela sua Igreja. E poderíamos dizer que não são exemplos raros. Esporádicas são as oportunidades ou as motivações para que vidas desse tipo sejam mais noticiadas e colocadas à luz do dia como modelos para os jovens que tentam identificar-se mais com Cristo. Um Cristo jovem, eterno, perene, verdadeiro, amigo, que não se destrói diante dos paradigmas dogmáticos do iluminismo covarde do mundo libertino em que nos encontramos. A biografia do jovem que morreu com fama de santidade, da autoria de Nicola Gori, e cujo processo de beatificação é provável que seja instaurado a qualquer momento pela Arquidiocese de Milão, intitula-se: “Eucaristia, minha rodovia para o céu. Biografia de Carlo Acutis!”. Certamente, fruto da consciência de que, diante de Cristo, tudo e toda a vida humana se relativizam na contemporaneidade efêmera da beleza, da saúde, da musculosidade sarada, da vitalidade fugaz da existência, dos bens materiais, enfim, da própria imanência existencial, culminando na morte, que é o caminho aberto à plenitude da vida eterna diante de Deus. De fato, não é a brevidade ou a longevidade da vida que conta, mas a intensidade de amor ao Senhor da vida com que ela é encarada e vivida serenamente.


O testemunho de um jovem como Carlo Acutis faz-nos refletir sobre a estupidez de nossa arrogância, muitas vezes, arvorada na sabedoria insana de pensar que a vida não se acaba nunca, quando, na verdade, toda a sabedoria e autossuficiência humanas se dissipam e se acabam no casco quebrado do crânio onde o estudioso encontrou senão a matéria morta e desprovida de vida. Destarte, ao lume da brevidade da vida, encontra-se a possibilidade do vislumbre eterno que o tempo permite ser vivido depois. Pensemos nas crianças que morrem em tenra idade, vitimadas por tantas espécies de cânceres malignos. Vidas ceifadas na flor do existir. É como se as crianças pudessem dizer, em forma de oração a Cristo: “O Senhor me mandou ao mundo, mas logo veio buscar-me! Mesmo assim, foi a brevidade do tempo passado na terra que me deu a grandeza e a oportunidade de viver a longa eternidade de Deus no céu, com todos os amigos de Cristo”. No entanto, a intimidade com Cristo e o oferecimento de nossas dores unidas a Ele, podem ser o grande consolo de sua presença fiel e oferente. Com efeito, viver com Cristo e para Cristo significa fazer morrer em nós muitas vontades humanas que não correspondem à sua santa vontade. Sim, a vontade de Deus independe de nossa vontade.


Quantos sonhos são sacrificados na vida de quem se despede do mundo aos quinze anos de idade! Morar com Cristo é o desejo mais íntimo dos santos que aceitam diluir a gota de sua existência na perenidade profunda e inatingível do mar da essência divina. Lembro-me do jovem São Luís Gonzaga, que viveu no final do século XVI, escrevendo à sua querida mãe, como que antevendo a doçura do que seria viver eternamente com Cristo, seu Bem mais amado: “Os médicos, que não sabem como irá acabar, procuram fazer todo o possível para a saúde do corpo. Mas para mim é mais importante pensar que Deus nosso Senhor queira conceder-me uma saúde melhor do que aquela que possam obter os médicos; e, portanto, estou verdadeiramente feliz, porque espero que dentro de poucos meses Deus nosso Senhor me chame da terra dos mortais para o reino dos vivos” . Muito bonito o exemplo do Santo que, aos 23 anos de vida, mudou-se, chamado por Cristo, para o “reino dos vivos”.


Como é difícil acertar nossa vida com a de Cristo quando os apelos do mundo nos chamam numa direção totalmente contrária, distraindo-nos do bem Supremo que é o próprio Deus. Acossados pela pressa do mundo moderno, que Carlo Acutis nos ajude a contar com sabedoria interior os dias que correm na terra e nos levam ao encontro definitivo com Cristo, no céu. Amém!