quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

O Sacerdote age na Pessoa de Cristo


O Sacerdote age na Pessoa de Cristo


O mistério que envolve a figura do sacerdote é uma realidade que ultrapassa todas as dimensões de sua humanidade. Não por acaso, ele age “in persona Christi” – na Pessoa de Cristo – segundo a expressão do Concílio Vaticano II. O sacerdote oferece todo o seu ser a Cristo, a fim de que a missão evangelizadora e santificadora da Igreja continue pelo tempo afora e não se perca pelos caminhos do mundo.

Na verdade, trata-se de uma tarefa confiada por Cristo à sua Igreja e aos seus ministros, que nada mais são do que “servidores de Cristo e administradores dos mistérios de Deus” (1Cor 4,1). O texto latino fala de “dispensadores” [“dispensatores”], para significar, mais dos que administradores, alguém que se coloca a servido de Deus como instrumento por meio do qual se realiza e opera a graça divina sobre os homens. De fato, o sacerdote não se serve a si mesmo. Com efeito, perdoando os pecados de seus irmãos na carne e no sangue, por meio do Sacramento da Penitência, ele não pode usufruir de tal benefício interior senão recorrendo a outro sacerdote que lhe absolva os pecados. Já o vocabulário, originalmente, grego, apresenta-nos um termo curioso: “ecônomos dos mistérios de Deus”.
O termo “oikonomos” [“administrador da casa”] aparece em todo o Novo Testamento, apenas dez vezes. Segundo O. Michel, entre os muitos significados atribuídos à elasticidade do pensamento grego, especificamente quanto ao conteúdo novo testamentário, está o fato de que o Apóstolo usa o vocábulo no sentido translatício, isto é, metafórico, a fim de indicar a autoridade e o reconhecimento apostólico (1Cor 4,1s). Desse modo, tanto nessa passagem quanto em 1Cor 4,2, não se trata de precisar a posição social do “oikonomos”, pois, na verdade, ao administrador é confiado o tesouro do evangelho, que transmite o pleno conhecimento do plano salvífico de Deus. Por conseguinte, a expressão “servidores de Cristo e administradores dos mistérios de Deus” recorda Mt 13,11: “Porque a todos foi dado conhecer os mistérios do reino dos céus”.

Enquanto em 1Cor 4,1 temos a proximidade entre “servos de Cristo” e “administradores dos mistérios de Deus”, em 1Cor 4,2, é colocado em relevo a primeira qualidade exigida para um ecônomo, qual seja, a fidelidade (Lc 12,42; 16,10; Mt 25,21.23). Na Carta a Tito, encontramos o termo relacionado ao ministério dos bispos, porquanto “é preciso que sendo ecônomo das coisas de Deus, o epíscopo seja irrepreensível, não presunçoso, nem irascível, nem beberrão ou violento, nem ávido de lucro desonesto, mas seja hospitaleiro, bondoso, ponderado, justo, piedoso, disciplinado, de tal modo fiel na exposição da palavra que seja capaz de ensinar a sã doutrina como também de refutar os que a contradizem” (Tt 1,7-9). No texto acima citado, ao Apóstolo solicita a Tito que qualquer pessoa que tenha assumido uma tarefa eclesiástica viva de modo adequado aos mistérios do evangelho.