quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Pax in hominibus bonae voluntatis


Pax in hominibus bonae Voluntatis


“Paz na terra aos homens de boa vontade!” (Lc 2,14). Que bom poder iniciar o ano de 2013 falando de paz. Paz para todos os meus queridos e assíduos leitores, para todas as pessoas que compõem o quadro de trabalho desse distinto Jornal da Cidade, no qual escrevo, semanalmente, se não me engano, desde fevereiro de 2010, quando publiquei o primeiro texto na coluna que recebe o conteúdo de meus textos. Na verdade, escrever exige muita criatividade, leitura e inspiração. Tudo isso sopra, de modo permanente, sobre o veio poético, prosaico ou sobre qualquer outro estilo literário do escritor. São ideias, pensamentos e percepções que invadem o universo interior do artista das letras. Escrever também é arte. Não por acaso, todos os jornais e livros do mundo são feitos de ramificações elaboradas no berço elástico da inteligência que se externa nos códigos da comunicação. Assim, espero e desejo que, ainda por muitos outros anos, eu possa continuar brindando os leitores com os artifícios de meus apontamentos semanais, o que agradeço, de maneira incomensurável, à disposição dos diretores do Jornal da Cidade, que me confiaram tamanha responsabilidade.

Em relação à paz, desejamos paz a todos os nossos irmãos e amigos, paz nas famílias, paz nas ruas, paz nas repartições públicas, paz no trânsito, paz nos relacionamentos, paz para as guerras, enfim, paz nos corações. Que 2013 seja, realmente, marcado pelo nosso esforço pessoal e coletivo, a fim de que as agressões de todo tipo sejam diminuídas, de modo que a paz cresça em todos os lugares da terra. Numa palavra: que nos tornemos “obreiros da paz”, conforme o desejo do Santo Padre, o Papa Bento XVI, na sua mensagem de início de ano para 2013. O Papa volta a temas essenciais para a vida da sociedade num mundo globalizado, enfatizando, especialmente problemas graves que afetam, não apenas o bem-estar comum de todos os homens, mas também ameaçam as seguranças devidas ao seu próprio futuro e estabilidade geopolítica nas relações íntimas entre as nações. Portanto, no amplo contexto de suas intenções quanto ao favorecimento da paz mundial, ele fala do aborto e da objeção de consciência, da família, da eutanásia, do matrimônio entre um homem e uma mulher, da liberdade religiosa e do reverso grave de sua intolerância, do direito ao trabalho, que fomenta a dignidade humana, da necessidade de uma nova visão relacionada à economia, da crise financeira e alimentar.

Tudo isso a cima referido, motivado pelo desejo que o Santo Padre tem, sobretudo, para que os lideres mundiais se comprometam mais com as vicissitudes transformadoras de uma sociedade em desequilíbrio, porque distante de Deus, o único capaz de reestabelecer os vínculos dos desníveis sociais que envolvem todos os tipos de relacionamentos. Daí a afirmação do Romano Pontífice: “A paz envolve o ser humano na sua integridade e supõe o empenhamento da pessoa inteira: é paz com Deus, vivendo conforme à sua vontade; é paz interior consigo mesmo, e paz exterior com o próximo e com toda a criação. Como escreveu o Beato João XXIII na Encíclica Pacem in terris – cujo cinquentenário terá lugar dentro de poucos meses – a paz implica principalmente a construção duma convivência humana baseada na verdade, na liberdade, no amor e na justiça. A negação daquilo que constitui a verdadeira natureza do ser humano, nas suas dimensões essenciais, na sua capacidade intrínseca de conhecer a verdade e o bem e, em última análise, o próprio Deus, põe em perigo a construção da paz. Sem a verdade sobre o homem, inscrita pelo Criador no seu coração, a liberdade e o amor depreciam-se, a justiça perde a base para o seu exercício”. E ainda: “A realização da paz depende, sobretudo, do reconhecimento de que somos, em Deus, uma única família humana. Esta, como ensina a Encíclica Pacem in terris, está estruturada mediante relações interpessoais e instituições sustentadas e animadas por um ‘nós’ comunitário, que implica uma ordem moral, interna e externa, na qual se reconheçam sinceramente, com verdade e justiça, os próprios direitos e os próprios deveres para com os demais. A paz é uma ordem de tal modo vivificada e integrada pelo amor, que se sentem como próprias as necessidades e exigências alheias, que se fazem os outros coparticipantes dos próprios bens e que se estende sempre mais no mundo a comunhão dos valores espirituais. É uma ordem realizada na liberdade, isto é, segundo o modo que corresponde à dignidade de pessoas que, por sua própria natureza racional, assumem a responsabilidade do próprio agir”.

Por conseguinte, a responsabilidade da paz que, segundo o Papa, não é um sonho nem uma utopia, mas uma possibilidade, diz respeitos a todos os homens de boa vontade que reconhecem o valor da justiça, do direito, da fraternidade universal, enfim, do perdão. Por isso que o verdadeiro “obreiro da paz”, como exorta o Papa Bento XVI, “é aquele que procura o bem do outro, o bem pleno da alma e do corpo, no tempo presente e na eternidade”; “O obreiro da paz deve ter presente também que as ideologias do liberalismo radical e da tecnocracia insinuam, numa percentagem cada vez maior da opinião pública, a convicção de que o crescimento econômico se deve conseguir mesmo à custa da erosão da função social do Estado e das redes de solidariedade da sociedade civil, bem como dos direitos e deveres sociais. Ora, há que considerar que estes direitos e deveres são fundamentais para a plena realização de outros, a começar pelos direitos civis e políticos”; “Concretamente na atividade econômica, o obreiro da paz aparece como aquele que cria relações de lealdade e reciprocidade com os colaboradores e os colegas, com os clientes e os usuários. Ele exerce a atividade econômica para o bem comum, vive o seu compromisso como algo que ultrapassa o interesse próprio, beneficiando as gerações presentes e futuras. Deste modo sente-se a trabalhar não só para si mesmo, mas também para dar aos outros um futuro e um trabalho dignos”; “os obreiros da paz são chamados a trabalhar juntos em espírito de solidariedade, desde o nível local até ao internacional, com o objetivo de colocar os agricultores, especialmente nas pequenas realidades rurais, em condições de poderem realizar a sua atividade de modo digno e sustentável dos pontos de vista social, ambiental e econômico”; “os diversos obreiros da paz são chamados a cultivar a paixão pelo bem comum da família e pela justiça social, bem como o empenho por uma válida educação social”.

Finalmente, o Santo Padre conclui asseverando que “há necessidade de propor e promover uma pedagogia da paz. Esta requer uma vida interior rica, referências morais claras e válidas, atitudes e estilos de vida adequados. Com efeito, as obras de paz concorrem para realizar o bem co­mum e criam o interesse pela paz, educando para ela. Pensamentos, palavras e gestos de paz criam uma mentalidade e uma cultura da paz, uma atmosfera de respeito, honestidade e cordialidade. Por isso, é necessário ensinar os homens a amarem-se e educarem-se para a paz, a viverem mais de benevolência que de mera tolerância. Incentivo fundamental será ‘dizer não à vingança, reconhecer os próprios erros, aceitar as desculpas sem as buscar e, finalmente, perdoar’ de modo que os erros e as ofensas possam ser verdadeiramente reconhecidos a fim de caminhar juntos para a reconciliação. Isto requer a difusão duma pedagogia do perdão. Na realidade, o mal vence-se com o bem, e a justiça deve ser procurada imitando a Deus Pai que ama todos os seus filhos (cf. Mt 5, 21-48). É um trabalho lento, porque supõe uma evolução espiritual, uma educação para os valores mais altos, uma visão nova da história humana. É preciso renunciar à paz falsa, que prometem os ídolos deste mundo, e aos perigos que a acompanham; refiro-me à paz que torna as consciências cada vez mais insensíveis, que leva a fechar-se em si mesmo, a uma existência atrofiada vivida na indiferença. Ao contrário, a pedagogia da paz implica serviço, compaixão, solidariedade, coragem e perseverança”.

Não obstante os inúmeros desafios que enfrentamos todos os dias na escala de depreciação e desvalorização da vida humana, por meio das espirais de violências que a agridem, implacavelmente, não podemos desaminar diante do sonho, talvez, utópico da concreta realização da paz entre nós. Basta que cada um faça sua parte onde quer que se encontre ao lado de seus pares. A paz autêntica é fruto da generosidade, do desprendimento de si e da abertura aos irmãos.