terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Ciao, Bento XVI!


Ciao, Bento XVI! 

 



Ciao, Bento XVI! Todos nós ficamos surpresos e, por que não o dizer, tristes com a sua decisão de renúncia. Mas nem por isso o senhor será menos amado, admirado e agradecido por todo o bem que fez pela Igreja de Cristo, desde quando, lá no fundo do horizonte de sua existência cristã, decidiu consagrar toda a sua vida a Cristo e às necessidades temporais da Igreja peregrina. Sua fadiga incansável pelo bem da Igreja será reconhecida por Aquele que, um dia, dir-lhe-á: “Muito bem, servo bom e fiel! Sobre o pouco foste fiel, sobre o muito te colocarei. Vem alegar-te [participar da alegria] com o teu senhor!” (Mt 25,21). Será o último convite de Cristo a indicar-lhe o caminho do prêmio eterno, como para todos aqueles, que, a exemplo de São Paulo, combateram o bom combate, terminaram a sua carreira, mas guardaram a fé, esperando, com perseverança, a coroa da vitória que o Justo Juiz concederá aos que lhe foram fiéis até o fim, no dia de sua manifestação final (2Tm 4,7-9). 


Sua renúncia é o retrato vivo de uma Igreja com rosto humano e, portanto, administrada na terra por homens a quem o próprio Cristo confiou o poder das chaves (Mt 16,13-19). Tal autoridade reflete, mesmo se no turbilhão das vicissitudes do redemoinho do mundo, a supremacia do próprio Cristo que lhe confiou tão grave e comprometedora responsabilidade, a fim de que confirmasse os seus irmãos na fé. 


Em muitas reportagens que vi televisivas ou não, por meio dos tabloides da imprensa mundial, sua imagem foi apresentada de costas para o público, como se o desprezo do mundo golpeasse-o até esses momentos mais extremos de sua generosidade e entrega pela Igreja e por todos os homens de boa vontade, que encontraram na plasticidade espiritual de seus discursos – mensagens, homilias, encontros com autoridades do mundo inteiro, políticos, religiosos, sacerdotes, crianças, jovens e velhos – um raio de luminosidade para suas buscas e incertezas, para as dúvidas do espírito e as angústias da alma. O legado espiritual de seu pontificado e ministério petrino não se apagará da memória do tempo da Igreja de Cristo, que seguirá sua missão, conduzida pelo Santo Padre, eleito em breve – cujo nome desconhecemos, mas Deus o conhece – e guiada pela mesma e permanente assistência do Espírito Santo. 


Na solidão e na dor de seu silêncio orante, estaremos sempre unidos, amando a Igreja de Cristo, que pede a cada um de seus seguidores mais próximos a coragem da Cruz. Não da cruz que nos humilha e nos mata. Nem da cruz que arranca de nossos farrapos humanos o grito, quase desesperado, da prostração. Mas da cruz que ilumina todas as trevas do nosso vazio interior, projetando nele a própria luz de Deus, que nos reanima em cada nova etapa do “sim” mais radical a Deus, que nos conhece profundamente. Da cruz que, mesmo mergulhando nosso espírito em todo tipo de aparentes contradições, abre-nos na carne ferida pelo pecado a própria Ressurreição de Cristo. Aquela que Cristo quis garantir-nos, confirmando que a vida eterna existe, que a convivência com o Amado será plena de glória e imortalidade no céu. 


Bom saber que, dentro de pouco mais de dois meses, saberemos que estará bem perto do coração da Igreja, dentro do Vaticano, realizando o extraordinário serviço de oração e intercessão pela Igreja do Senhor. Mesmo se “escondido do mundo”, distante dos olhos indiscretos e de línguas peçonhentas, protegido dos inimigos implacáveis que continuarão existindo dentro e fora da Igreja, seu coração seguirá o ritmo solene das delicadezas divinas para com a Igreja inteira, que continuará singrando os caminhos do mundo contemporâneo com a mesma força e ousadia de sempre, porquanto levada pelas mãos de seu próprio Senhor fundador, Cristo Jesus. Ciao, Bento XVI! Até a eternidade.