quinta-feira, 11 de setembro de 2014

A Capela da Medalha Milagrosa


A Capela de Nossa Senhora 
da Medalha Milagrosa - Paris 


 

A Capela de Nossa Senhora da Medalha Milagrosa é um lugar de peregrinação de pessoas do mundo inteiro. Encontrei algumas religiosas brasileiras de São Vicente de Paulo. Na verdade, estava acontecendo um encontro internacional com 96 freiras de várias partes do mundo. Uma delas estava encantada e feliz por perceber a força jovem das consagradas que continuam chegando para consagrar sua vida ao Senhor na Congregação das Irmãs da Caridade. Elas acolhem a todos com muita generosidade e atenção. A programação religiosa do ambiente favorece o recolhimento e a oração. Sua história remonta ao século XIX, especificamente, ao ano de 1830, por ocasião da manifestação de Nossa Senhora à Irmã Catarina Labouré, na capela das Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo. Catarina era filha de camponeses e nascera no dia 2 de maio de 1806, numa pequena aldeia chamada Fain-les-Moutiers, no sudoeste de Montbard, canal de Burgonha. Por causa da vida dura que levava, com frequentes gravidezes, Luísa Gontard – sua mãe – tivera dez filhos, e morreu aos 42 anos de idade. Órfã aos nove anos, Catarina confiou sua vida à Virgem Maria, dizendo: “De agora em diante, Tu serás a minha mãe”. 

 
 São Vicente de Paulo

No vai e vem dos reveses da existência, um dia, Catarina tem um sonho, por meio do qual ele vai descobrindo o sentido de sua vida. Parece estar rezando e vê um sacerdote idoso que reza a missa, com os paramentos sagrados. Depois, ele a chama, e ela foge assustada, mas o sonho a persegue. Encontrando-se à cabeceira de um doente, o velho padre também se apresenta, dizendo-lhe: “Minha filha, é bom tratar dos doentes. Agora foges de mim, mas um dia serás feliz por vir a mim. Deus tem os seus desígnios sobre ti, não o esqueças!”. Com vontade de trabalhar com as Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo, depois de uma visita ao Hospício de Moutiers-Saint-Jean, falou ao seu pai, Pedro Labouré, e recebeu uma resposta ríspida e seca: “Não te deixo ir!”. Obediente ao pai, logo depois, seguiu para Paris onde iria trabalhar no restaurante de seu irmão, que embora se fosse muito bem acolhida não se sentia à vontade com o ambiente aristocrático. Sabendo da existência de uma casa das Filhas da Caridade em Paris, quis fazer-lhe uma visita e, para sua surpresa, deparou-se com o quadro do fundador, São Vicente de Paulo (1581-1660), que reconheceu ser o padre idoso visto no sonho. Quatro dias depois da chegada de Catarina ao seminário, o corpo de São Vicente de Paulo foi transladado numa grande procissão, saindo da Catedral Notre-Dame-de-Paris, onde estava exposto desde o dia 10 de abril de 1830, em direção à Capela dos Lazaristas, na Rue de Sèvres, onde continua exposto até hoje. Seu coração encheu-se de alegria e paz, na certeza de que então poderia confiar à Superiora seu desejo de consagração. E ela passou a morar na Rue de Bac, número 140, no dia 21 de abril de 1830, quando tiveram início as aparições de Nossa Senhora. 

 Santa Catarina Labouré

Na aparição do dia 27 de novembro daquele ano, entre outras coisas, uma voz disse a Catarina: “Fazei cunhar uma medalha conforme este modelo [o da aparição, com raios que se desprendiam das mãos da Virgem simbolizando as graças derramadas sobre quem as pedisse]. Todas as pessoas que a trouxerem ao pescoço receberão grandes graças; as graças serão abundantes para os que a trouxerem com confiança”. Apesar das resistências colocadas pelo Padre Aladel, o Arcebispo de Paris, Monsenhor Quélen, reconhecendo que nada se opunha à fé, autorizou a cunhagem da “Medalha Milagrosa”, que começou a ser distribuída em 1832. Catarina morreu no dia 3 de janeiro de 1877. Em 1933, o Cardeal Arcebispo de Paris, Vernier, solicitou a exumação na presença de dois médicos, da Superiora Geral da Congregação e de outras testemunhas, com o intuito da beatificação. Seu corpo foi encontrado do mesmo jeito de quando fora enterrada. Desde então, seu corpo repousa na Rue de Bac, cujo relicário encontra-se no mesmo lugar onde Nossa Senhora lhe apareceu. Ela fora canonizada pelo Papa Pio XII, no dia 27 de julho de 1947. Foi ele quem a reconheceu como “a Santa do Silêncio”.

Impressionante como os canteiros dessas vidas santas continuam tão pertos de nós! São Vicente de Paulo, Santa Catarina Labouré, entre tantos outros espalhados no nosso meio e pelo mundo afora, ainda são testemunhas de que Deus continua agindo e manifestando sua presença no seio da humanidade, como Ele sempre o fizera ao longo da difícil escalada dos séculos. Hoje, vivemos tão mergulhados no fastio da ausência de Deus, do Deus cujo nome parece que temos até vergonha de Nominá-lo, que podemos mesmo imaginar que Ele se ausentou do nosso meio. Tropeçamos nos sinais de Sua presença, mas não queremos dar o braço a torcer. Volta-me novamente à baila um pensamento de Bento XVI, que, na verdade, é um questionamento. Ele fala da sede que carregamos dentro do coração, do desejo ardente que sentimos de ver a sua “Face”, como a saudade que queima pela carência do Absoluto: “O silêncio de Deus, o eclipse de Seu rosto é, por si mesmo, castigo. É claro que, ao eclipsar-se Deus, pode o pecador experimentar um ilusão de segurança – ‘Deus parece não existir de todo!’. Pode-se tranquilamente viver sem Ele, contra Ele, de costas voltadas para Ele – assim parece... É justamente essa segurança do ímpio que constitui a sua mais profunda desgraça. Num tempo de silêncio de Deus, num tempo em que a Sua face parece ter-se tornado irreconhecível, não deveríamos refletir – e com algum alarme! – sobre o significado do ocultamento de Deus? Não deveríamos perspectivar tal ocultamento como o verdadeiro destino a que o mundo fica condenado, e, nessa medida, invocar a Deus mais estridentemente e com maior insistência para que mostre a Sua face? Em situação como esta, não será a busca de Sua face tão urgente?”. 
 
 Joseph Ratzinger - Bento XVI

Quem dera que os frêmitos do coração do Papa atingissem os bordos do mundo oco que busca a Deus sem querer reconhecê-Lo como o Único Bem Supremo que corresponde a todas as suas necessidades e anelos mais profundos! O Papa intenciona traduzir, de modo clamoroso e áspero, a insensatez que invade o espírito do homem que se pensa senhor de si mesmo, de seu destino mais elevado, garimpando nos porões do seu cosmo interior a essência de sua imagem perdida longe de seu Criador. Apenas quando o homem voltar-se totalmente para o seu Senhor, é que ele, então, reencontrará o brilho de sua face luminosa refletida do próprio rosto de Deus. Até lá, Deus continuará esperando-o, amorosamente.

 
 O retorno do Filho Pródigo