terça-feira, 8 de novembro de 2011

Casamento e prazo de validade!


Casamento e Prazo de validade na cultura do Achismo 


Não sei quantas pessoas gostaram da iniciativa, no México, da possibilidade de um “casamento civil” – diga-se de passagem, embora tenham apresentado cenas com o “casamento religioso”, na presença de um padre – com prazo de validade, apresentado no programa do Fantástico, no domingo, seis de novembro. Mas, gostaria de refletir sobre o modismo dialético do “faça como você achar que deve”. Esse deve ser o ditame da consciência de cada um que gere sua vida do jeito que considera mais conveniente, inclusive, com a pessoa, supostamente, amada, com a qual ela quis estabelecer laços mais profundos, na recíproca aceitação entre um homem e uma mulher, que constituem a natureza original do que, mais tarde, foi levado à condição de sacramento. O fato é que essa união natural entre duas pessoas de sexos opostos sempre existiu em todas as civilizações da história humana. E ela – a união – está, até mesmo, na origem criacional de Deus que “criou homem e mulher”, conforme o relato bíblico (Gn 1,27). 

O mundo está vivendo, assim, aos avessos, sem nenhum compromisso sério mais com nada nem com ninguém. As pessoas tornaram-se objeto da satisfação momentânea e interesseira da volição alheia, da vontade do outro, que usa e abusa até dizer “não quero mais! Vou partir pra outra!”. Vivemos a cultura da banalização de tudo, de todos os relacionamentos. Até na Igreja, parece – eu disse “parece”, portanto, afirmação duvidosa – que o Sacramento do matrimônio tem sido banalizado. Basta qualquer pagão apresentar-se dizendo que quer marcar a data de seu casamento, para que tenha direito a véu e grinalda, no caso das mulheres, nem que seja somente para sair bem na foto, sendo que, qualquer tempo depois, separa-se por não se dispor a nenhum tipo de sacrifício no relacionamento a dois. Basta ver as pessoas que procuram as Igrejas chiques de Aracaju e do mundo, buscando o Sacramento da Igreja do qual elas não têm muita noção do que significa. Claro que, graças a Deus, não são todos que desconhecem as implicações do Sacramento que vão receber, mas, infelizmente, esses estão no circuito da minoria. Na grande maioria, são pessoas que não vivem a religião, muito menos a sua fé, e não têm nenhum compromisso com o que pretendem receber. Em minha opinião – e ainda bem que não é a opinião da maioria – somente deveriam receber o Sacramento do Matrimônio as pessoas que vivem nas comunidades católicas cristãs, demonstrando o testemunho de assumir o risco de sua fé em todas as circunstâncias da vida, e não apenas quando se lembram de ritos mágicos, que pensam transformar sua vida, sem o compromisso radical com as consequências de suas escolhas. É verdade que ninguém se casa hoje para separar-se amanhã, como também nenhum padre se ordena hoje para deixar o ministério sacerdotal logo depois. No entanto, penso que deveria haver o mínimo possível do esforço de correspondência e fidelidade aos compromissos assumidos publicamente, perante Deus e a Igreja. 

Então, quais são, de fato, as implicações do Sacramento do Matrimônio na vida dos cristãos, isto é, daqueles que, conscientes da responsabilidade com a sua fé e adesão a Cristo, comprometem-se a levar adiante os desafios testemunhais de sua religião? O Catecismo da Igreja Católica (CIC) apresenta-nos alguns critérios doutrinais nesse sentido. Inicialmente, o Catecismo afirma: “A aliança matrimonial, pela qual o homem e a mulher constituem entre si uma comunhão da vida toda, é ordenada por sua índole natural ao bem dos cônjuges e à geração e educação da prole, e foi elevada, entre os batizados, à dignidade de sacramento por Cristo Senhor” (CIC, n. 1601). E o Catecismo esclarece mais: “O Sacramento do Matrimônio significa a união de Cristo com a sua Igreja. Concede aos esposos a graça de amarem-se com o mesmo amor com que Cristo amou a sua Igreja; a graça do sacramento leva à perfeição o amor humano [tão banalizado hodiernamente] dos esposos, consolida sua unidade indissolúvel e os santifica no caminho da vida eterna” (CIC, n. 1661); “O Matrimônio baseia-se no consentimento dos contraentes, isto é, na vontade de doar-se mútua e definitivamente para viver uma aliança de amor fiel e fecundo” (CIC, n. 1662); “A unidade e indissolubilidade e a abertura à fecundidade são essenciais ao Matrimônio. A poligamia é incompatível com a unidade do matrimônio; o divórcio separa o que Deus uniu; a recusa da fecundidade desvia a vida conjugal de seu ‘dom mais excelente’: a prole” (CIC, n. 1664); “O novo casamento dos divorciados ainda em vida do legítimo cônjuge contraria o desígnio e a lei de Deus que Cristo nos ensinou. Eles não estão separados da Igreja, mas não têm acesso à comunhão Eucarística. Levarão vida cristã principalmente educando seus filhos na fé” (CIC, n. 1665); enfim, cito apenas mais um parágrafo do Catecismo: “O lar cristão é o lugar em que os filhos recebem o primeiro anúncio da fé. Por isso, o lar é chamado, com toda razão, de ‘Igreja doméstica’, comunidade de graça e de oração, escola das virtudes humanas e da caridade cristã” (CIC, n. 1666). 

Com certeza, as ideias contidas nas definições do Catecismo não coincidem com o pensamento dos pagãos da modernidade. Na verdade, são até palavras ultrapassadas, fora de moda. Imaginem se vocábulos como “fidelidade”, “amor”, “entrega definitiva”, “indissolubilidade”, “unidade”, “fecundidade”, entre outros, correspondem à mentalidade abortífera, infiel e dissoluta do mundo moderno. Claro que não! O problema, talvez, seja o laxismo moral com que permitimos que nossa consciência seja invadida e contaminada pelas doutrinas da moda e pela seiva venenosa do neo-paganismo atual. Mesmo assim, embora o mundo da cultura do achismo e do modismo assuma várias concepções a respeito do casamento, para a Igreja sua definição é uma só dentro do expediente dos Sacramentos da Igreja, que servem para santificar os homens, em qualquer estado de vida, segundo a vontade de Cristo. E mesmo que a palavra de Cristo não diga mais nada ao mundo moderno, eu não posso deixar de citá-la, a fim de extrair dela a grandeza e a exigência radical de seu ensinamento. Falando da indissolubilidade do Matrimônio e do efeito devastante do divórcio, Cristo afirmou: “Foi dito: Aquele que repudiar sua mulher, dê-lhe uma carta de divórcio. Eu, porém, vos digo: todo aquele que repudia sua mulher, a não ser por motivo de ‘prostituição’ [do original grego “porneia”, isto é, “imoralidade sexual”, “fornicação”, “união ilegítima”, “infidelidade conjugal”, “comportamento sexual ilícito”], faz com que ela adultere; e aquele que se casa com a repudiada, comete adultério” (Mt 3,31-32). Eis, pois, aí, uma página do Evangelho de Cristo que muitas pessoas, entre as quais alguns padres e bispos, gostariam de rasgar pelo incômodo de sua tão contundente verdade. 

Essa intenção escondida e dissimulada em dialéticas pessoais, mas não convincentes, manifesta o desejo de receber aplausos pela conveniência do “ser bonzinho”, mesmo que para isso, eles traiam a verdade perene do evangelho de Jesus Cristo. Com sinceridade, devemos reconhecer que a palavra de Cristo é dura e radical, como também deve ser radical a exigência da vivência cristã de seus sacramentos. Conclusão: a palavra da Igreja é a Palavra de Cristo, e somente quem se dispõe a não ser enganado pela corrente astuciosa das falácias modernas, de seus argumentos falsos, deve aderir a ele e à sua doutrina, que é imutável, soprem os ventos que soprarem no redemoinho da confusão de muitas consciências inadvertidas e maleáveis quanto aos caprichos de sua própria insegurança. Assim, o “casamento civil”, que pode ser feito e desfeito quantas vezes o cliente desejar, não possui valor de Sacramento, como o é o “Casamento religioso”, o matrimônio, expressão sublime do amor incondicional entre Deus e a humanidade, entre Cristo e sua Igreja. De fato, o sacramento do matrimônio não é uma convenção humana em que os cônjuges tomam parte somente até quando quiserem ou desejarem. 

Sei que existem as inconveniências do relacionamento a dois, como as consequências da traição, da infidelidade, da violência – tão frequente nos noticiários cotidianos – da falta de compreensão e diálogo recíprocos, da mentira justificada pela desconfiança e o desrespeito. Todavia, em meio aos dissabores e vicissitudes por que passam os casais envolvidos e enrolados nas incongruências do casamento, a Igreja vai defender até o fim a sacralidade do matrimônio válido e legítimo diante de Deus e da Igreja, no sentido de promover, como fruto da liberdade interior com que eles se dão e se entregam, voluntariamente, a santificação das famílias cristãs. Isso é devido à graça santificante própria e conferida a quem recebe os sacramentos da Igreja, com a devida disposição de inteligência e preparação do espírito.