segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Então, é Natal!!

Então, é Natal! 


O Novo Testamento diz que “quando, porém, chegou a plenitude do tempo, enviou Deus o seu Filho, nascido de uma mulher” (Gl 4,4). Sim, ele nasceu como nós. Ele nasceu de uma mulher. Mas, diferentemente do modo como fomos concebidos, ele foi “gerado” por obra e graça do Espírito Santo (Lc 1,26-38). No seio virginal da “Filha de Sião”, houve um “começo radical”. Portanto, dentro desse contexto natalino, isto é, na referência ao nascimento de Jesus, a Igreja professa que Deus, na sua infinita sabedoria, quis preparar digna habitação para o seu divino Filho. É o que a Igreja reza na Solenidade da Imaculada Conceição da Virgem Maria, pois, Deus a preservou “de todo pecado em previsão dos méritos de Cristo” (Missal Romano). Eis, ainda, o que a Igreja canta de maneira bonita e solene: “Oh vinde depressa, do seio da Virgem, Beleza dos céus! O mundo admire: um tal nascimento é digno de Deus. Não germe de homem, mas sopro divino no seio gerou. O Verbo de Deus se fez nossa carne, o ventre deu flor” (Liturgia das Horas).
Durante anos a fio, o Povo de Israel viveu na expectativa do nascimento do Messias, do Ungido de Deus, revelando a todos os homens o seu rosto humano e, portanto, visível, pois, como afirma São Paulo, “Ele é a imagem do Deus invisível, o Primogênito de toda criatura, porque nele foram criadas todas as coisas, nos céus e na terra, as visíveis e as invisíveis” (Cl 1,15). Ou seja, que “o universo que percebemos ao nosso redor, não tem sentido sem Cristo”. Desse modo, com o nascimento do Filho de Deus, nasce também um mundo novo para todos nós, para todas as pessoas que compõem a existência do universo, mesmo para aquelas que ainda não ouviram falar sobre ele. Assim, o nascimento de Jesus não é fruto de uma especulação histórica, que planta na fantasia dos homens a vontade de ter um “deus” por perto; não é fruto da impossibilidade de explicar o fenômeno maravilhoso da criação; também não é fruto do desejo desesperado de autossuficiência que inquieta o coração humano. O nascimento de Jesus é a manifestação esplendorosa de que, no céu e na terra, há um Deus grande e poderoso que nos ama infinitamente. Com efeito, seu nascimento é a plenitude da manifestação do perdão que Deus mesmo quis conceder-nos quando, rebeldes e desobedientes, com grosseria, ingratidão e indiferença, voltamos as costas à sua bondade eterna.
É uma pena que o mundo ainda não tenha compreendido bem a grandiosidade desse amor, porque continua fechado à vida nova, e em plenitude, que Cristo veio trazer para todos. Na verdade, grande demais à compreensão racional humana é o mistério da Encarnação do Filho de Deus. Com já disseram, sabemos pela história que homens se fizeram deuses, mas que Deus tenha se tornado homem, essa é a novidade radical e escandalosa do Cristianismo. O Beato João Paulo II, preparando a humanidade e, sobretudo, os cristãos, para o ingresso jubiloso no terceiro milênio, dizia que, ao contrário das outras religiões que buscam a divindade, no Cristianismo, temos o caminho inverso, isto é, Deus vem ao encontro do homem para salvá-lo de seus pecados e, de maneira inaudita e extraordinária, reconduzi-lo à perdida intimidade com ele pelo mistério da Redenção de Cristo.
Celebrar o Natal de Jesus é, pois, carregar dentro da humildade de nossa consciência a certeza de que Deus está mais próximo de nós do que nunca. Se antes de sua chegada, cada um andava errante – como afirma o profeta Isaías, pois “todos nós andávamos errantes, seguindo cada um o seu próprio caminho” – agora, com o advento de sua presença, todos nós podemos retomar a estrada da reconciliação com ele, porquanto “Iahweh fez cair sobre ele a iniquidade de todos nós” (Is 53,6). Por isso que na celebração do Natal do Senhor, a Igreja não dissocia o efeito salvífico de seu nascimento à sua vida inteira, culminando na sua Paixão, Morte e Ressurreição. Por exemplo, quem já teve a oportunidade de contemplar algum ícone oriental do nascimento de Cristo, o menino-Deus, deve ter percebido que ele é apresentado envolvido em lençóis mortuários. Realmente, a inteligência divina não é racional como a nossa, que se determina pela dinâmica do ontem, do hoje e do amanhã, incluindo um “antes” e um “depois”. A visibilidade de Deus atinge todos os pontos da existência no “hoje” ou no “agora” de sua eternidade.
Nessa dimensão de raciocínio, entrando na história dos homens, Cristo, humildemente, submeteu-se às condições temporais e se fez igual a nós em tudo, “provado em tudo como nós, com exceção do pecado” (Hb 4,15). Ele também cresceu “em sabedoria, em estatura e em graça diante de Deus e dos homens” (Lc 2,52). Contudo, nada da sua existência humana diminuiu a sua divindade. Assim, a Igreja o reconhece “verdadeiro Deus e verdadeiro homem”. Embora com duas naturezas – a natureza humana e a divina – ele é uma pessoa só. Não são duas pessoas que habitam o Cristo. Com certeza, muito complexo parece ser o dogma da Igreja na correta e justa compreensão da pessoa do Filho de Deus. Todavia, o pensamento do Papa Bento XVI ilumina com mais clarividência o alcance da ideia que tentamos elaborar, pois Cristo, ao se “fazer carne”, permite que nos vejamos “colocados diante de um princípio de caráter absoluto e que narra a vida íntima de Deus. O Prólogo joanino apresenta-nos o fato de que o Logos existe realmente desde sempre, e desde sempre Ele mesmo é Deus. Por conseguinte, nunca houve em Deus um tempo em que não existisse o Logos. O Verbo preexiste à criação” (Exortação pós-sinodal Verbum Domini, n. 6). Mesmo se de difícil acesso intelectivo, nem por isso, devemos deixar de esforçar-nos para adquirir maior conhecimento sobre os desdobramentos da teologia ou da cristologia a respeito do Filho de Deus, que, especialmente no Natal, dialoga com a nossa humanidade. São João fala do Logos, do Verbo, da Palavra, como podemos distinguir nas diferentes traduções. E o Papa Bento XVI retoma o seu discurso do Natal de 2006 e corrobora o sentido dessa Palavra: “‘[...] O próprio Filho é a Palavra, é o Logos: a Palavra eterna fez-Se pequena; tão pequena que cabe numa manjedoura. Fez-Se criança, para que a Palavra possa ser compreendida por nós’. Desde então a Palavra já não é apenas audível, não possui somente voz; agora a Palavra tem um rosto: Jesus de Nazaré” (Exortação pós-sinodal Verbum Domini, n. 12).
A despeito de a pobreza de nossas concepções humanas permanecer sempre aquém da grandeza desse mistério, vale a pena o esforço de nossa lenta inteligência, auxiliada pela teologia da Igreja. Mas, para isso, precisamos ler e estudar o ensinamento do Magistério da Igreja apresentado pelos papas. Somente assim, poderemos amadurecer na fé e continuar firmes na Verdade da Igreja de Cristo, tão bela e rica na certeza das convicções da fé recebida e transmitida. Tal atitude deve ser motivada pelo desejo sincero e alegre do encontro com Cristo Jesus, o Senhor, Deus encarnado que vem ao nosso encontro. De fato, “a renovação desse encontro e desta consciência gera no coração dos fiéis a maravilha pela iniciativa divina, que o homem, com as suas próprias capacidades racionais e imaginação jamais teria podido conceber” (Exortação pós-sinodal Verbum Domini, n. 11). Na verdade, nunca é tarde para aumentarmos o conhecimento sobre Deus e as maravilhas que ele opera em prol de nossa salvação. Enfim, que a presença do Emanuel, do Deus conosco, encha de paz e alegria o coração de todos. Feliz Natal, com Jesus!