terça-feira, 7 de agosto de 2012

Meu Pai, Um homem Admirável!!



Meu Pai, Um homem admirável! 


Por ocasião dia dos pais, eu gostaria de falar do meu pai, que, para mim, é um homem admirável! Assim, espero que todos os pais, especialmente, aqueles que são meus leitores, recebam nosso tributo e nossa admiração, sobretudo, porque, na possibilidade dos muitos discursos feitos sobre os personagens cotidianos de nossa existência, a figura do pai parece pouco falada, senão quando da importância da oferta de presentes no dia que lhe é dedicado. Mas, o pai vale mais do que um presente, mais do que um gesto vago de reconhecimento. O pai vale o amor de nossa gratidão, a expressão máxima de nosso amor desajeitado, talvez, atropelado pelo pudor da não habitual facilidade de demonstrar-lhe nosso afeto. Cada um fale por si mesmo ou pelos impulsos tirados de sua própria experiência. 

Meu pai se chama Aristides Rodrigues dos Santos – conhecido por “Gileno Pedreiro”. Aliás, sobre a descoberta de seu verdadeiro nome, aconteceu algo curioso, quando eu tinha, mais ou menos, dez anos de idade. Certo dia, um cidadão bateu à porta e perguntou-me se naquela casa morava um tal de “Aristides”. Respondi que não, mas ele insistia dizendo que todos os vizinhos diziam que sim. Então, falei: “Eu moro, aqui, já há algum tempo e nunca ouvi falar o nome desse homem... Como ele poderia morar aqui?” Depois que ele foi embora, tive uma ideia: abri a porta e chamei-o, pedindo que esperasse um pouco. Procurei a minha mãe e perguntei-lhe: “A senhora conhece um tal de Aristides?!” A resposta foi surpreendente: “Não é o seu pai, menino!!!” Nem mesmo meus irmãos mais velhos sabiam o nome do nosso pai. Foi muito engraçado! Como pedreiro, meu pai sempre trabalhou duro, de sol a sol, dia após dia, na construção de casas e de muitos edifícios, buscando “o pão nosso de cada dia”, enquanto minha mãe, doméstica como tantas outras, ajudava os filhos nas labutas do dia, no envio para a escola, na educação de seus primeiros passos na formação do caráter e da personalidade, algo que recebemos de ambos. Pobreza e honestidade formaram nosso caráter na fortaleza de meus pais, na luta pela sobrevivência, na esperança de dias melhores, na convicção de que os dias não são iguais, na certeza de que as lágrimas, derramadas hoje, poderiam frutificar qual sementes plantadas na luminosidade de um novo amanhecer. 

Lembro-me, ainda, do tempo em que morávamos na roça, onde, em derredor da casa velha, crescia a esperança da fartura em invernos sucessivos, que era apenas um reforço a mais na necessidade de uma profissão mais contínua, na busca de recursos para a manutenção da família. De fato, meu pai, logo cedo, apresentou-se à dureza da vida, percorrendo o caminho de suas conquistas. E em meios às dificuldades, não faltaram a bravura e a coragem de um homem firme, decidido, levando na força do caráter a responsabilidade pela sobrevivência. Ficara órfão de pai em tenra idade, pois, seu pai morrera quando ele tinha três anos, vitimado num acidente com arma de fogo. Sempre bem quisto e colocado à frente de construções de casas comerciais e de residências, toda a sua vida foi fazendo moradias, e aumentando a beleza e a urbanização da cidade de Carira. Quando eu era criança, muitas vezes, acompanhei-o em construções de escolas e praças do Município. Ainda hoje, quem necessita de sua pessoa, como mestre de obras, deve entrar na fila de uma lista de espera. Nunca se cansou de trabalhar, mesmo agora no estágio avançado de sua vida septuagenária. Cada gota de suor derramada foi posta, magistralmente, na digna responsabilidade com que sempre assumiu o mister da competência de sua profissão. Quando a roça era no terreno de casa, a criançada circulava na festa da colheita e aprendiam, pela necessidade de estarem ali, o significado de envolver-se na ciranda inelutável e obrigatória da resistência pela vida, pela sobrevivência. Se for verdade que o filho é o espelho do pai, pelo menos em alguns detalhes da formação do caráter e da personalidade, como no brio da honestidade e do trabalho digno no intento de sua realização e da conquista de seu patrimônio, não somente psicológico, mas também espiritual e material, devo confessar que muito aprendemos de seu caráter e da generosidade desprendida da não acomodação, da labuta sem descanso. 

Lembro-me, também, de quando meu pai me carregava nos ombros, nos tempos idos de minha infância, especialmente, quando íamos à casa de nossos avós, no sítio do interior. Com efeito, o aconchego familiar das pessoas vizinhas nos levava pelas noites enluaradas à casa de meus avós, que não moravam muito distantes. Meus irmãos maiores iam caminhando à brisa da noite serena, a passos constantes, com a caminhada de meus pais. Inúmeras vezes, eu fui levado nos ombros de meu pai. Sentia-me mais perto da lua, e a animação do sussurro de vozes na estrada divertia o encanto do acolhimento entre os parentes: “Bênção, tio! Bênção, vó!”. O reencontro era sempre uma festa, uma alegria particular, um toque feliz na espontaneidade da convivência. Outra recordação que borbulha, levemente, sob as cinzas de um passado remoto, é a de que quase ninguém se lembra – ou pelo menos não se comenta – que meu pai possuía um boteco à beira da estrada e onde vendia cereais e algumas reservas mais de comestíveis. Era uma espécie de mercearia. E um vivo reflexo disso é a sua permanência, até hoje, em colocar uma barraca de cereais, às segundas-feiras, para atender os transeuntes sonâmbulos do frenesi do comércio

O pai permanecerá sempre na memória dos filhos, como a centelha do rebento da criação divina que os convida a reacender o facho da descendência genealógica da preservação da humanidade. Somos frutos da vontade divina que se manifesta na participação dos pais que estoura na explosão da vida de novos brotos da criatividade inesgotável do Senhor de todos nós. Cada um do seu jeito, cada um do seu modo, cada um com a carga dos dispositivos existenciais de suas categorias pessoais, diversificadas e enriquecidas pelos trejeitos de sua peculiaridade ímpar e sem igual, diante de seus semelhantes. A psicologia afirma que os homens encontram mais dificuldades para externar seus afetos, sua capacidade de carinho e apreço, mesmo em relação aos seus circundantes. Certamente, isso é reflexo da cultura machista que refreia, inclusive, a liberdade interior da pureza de muitos sentimentos que os pais carregam no coração, na fímbria da sensibilidade contida de suas afeições. O complexo mundo da virilidade esconde o potencial de ternura que também lhe é próprio na constituição de seu ser. Talvez, aí se encontrem o silêncio prolongado de sua reflexão, o oceano imenso de sua solidão e a carência não satisfeita de sua timidez. Mesmo assim, quando a palavra se cala, quando o silêncio se faz eloquente, quando as lágrimas rolam no esconderijo dos sentimentos, quando a história esconde o heroísmo franco de sua coragem, quando a tristeza obscurece o encanto de seu testemunho ou quando o sorriso descobre o segredo de sua grandeza, toda essa teia de percepções revela a alma sincera do êxtase de seu próprio ser, de seu próprio existir. 

Pai, carinho manifesto na debilidade aparente de sua amizade; socorro necessário aos embates emergenciais do sufoco dos filhos, teimosos e renitentes; graça sustentadora das fragilidades de seus refilhos; força motriz de formação no ímpeto do crescimento dos filhos; enfim, exemplo edificante de quem sabe construir a casa sobre a rocha firme da honestidade e do orgulho de saber-se garantia de segurança e fortaleza para os descendentes. Portanto, mesmo que os afetos desapareçam no abismo da distância afetiva do dia a dia, na incongruência comportamental dos desejos de proximidade, na infertilidade dos sentidos puros do amor rejeitado, na separação geográfica em busca do alimento para o sustento familiar, na incompreensão gratuita do esforço de carinho e afeto, o zelo dos pais se manifesta no cuidado constante pelo bem ético, virtuoso e salutar de suas crias. Por isso que, não obstante tudo, eles merecem o apreço de nossa consideração e a gratidão perene de sua presença em nossa vida. Então, muito obrigado pai – ou “papai”, como aprendemos a chamá-lo na educação informal da puerilidade – por todo o bem que nos tem proporcionado, mas, de modo especial, pelo testemunho inquestionável de fidelidade sublime à essência de seu próprio ser. Parabéns, papai! Que a graça do Pai do céu lhe conceda as condições necessárias à plenitude de toda a grandeza testemunhal e vivencial de sua dignidade paterna. Com carinho e gratidão!