domingo, 18 de novembro de 2012

Participa do meu sofrimento!

Participa do meu Sofrimento 

 

Gostaria de ter encontrado esse título em latim, mas, ou eu não entendi bem ou o texto latino não corresponde ao que consegui perceber na tradução. Então, resolvi deixá-lo em português mesmo, embora o termo grego seja interessante, sobretudo, quanto ao verbo usado por São Paulo no texto original: synkakopathéō. Ele aparece somente duas vezes em todo o Novo Testamento e significa “sofrer com” (2Tm 1,8; 2,3). O sofrimento é sempre um incômodo na vida de qualquer pessoa. 

Quem não tem medo do sofrimento? Quem não se angustia percebendo sua alma ser invadida pelas dilacerações do corpo e do espírito? Quem consegue manter a serenidade quando perseguido injustamente por causa da verdade da pregação do Evangelho de Cristo? Esse rastro de perturbação psicológica e espiritual também esteve presente na vida de São Paulo. Mas ele o aceitou, de maneira incondicional, com muita lucidez e convicção, por causa de Cristo e da pregação de sua boa nova. Do cárcere, cujas trevas também se projetam na noite escura do sofrimento da alma, São Paulo escreve a Timóteo: “Não te envergonhes, pois, de dar testemunho de nosso Senhor, nem de mim, seu prisioneiro; pelo contrário, participa do meu sofrimento [synkakopathéō] pelo evangelho, confiando no poder de Deus, que nos salvou e nos chamou com vocação santa, não em virtude de nossas obras, mas em virtude de seu próprio desígnio e graça” (2Tm 1,8-9). São Paulo usa o imperativo aoristo ativo na comunicação com seu dileto interlocutor: “Participa do meu sofrimento pelo evangelho!” Na gramática grega, o aoristo é um tempo para o qual não existe nenhum correspondente em língua portuguesa, o que pode dificultar a compreensão do termo, que significa “não delimitado”, “indefinido”. Segundo os gramáticos, “essencialmente, o aoristo não tem significado temporal”. 

Assim, quando o cálice da dor enche e transborda dentro do coração humano, nada como podermos contar com o apoio de um amigo, a quem poder confiar os rebordos aflitivos de sua interioridade! Não é para consolar-nos, mas para sabermos que não estamos sozinhos na tortura sofrida pelas exigências das certezas mais profundas da existência. São Paulo sofre por saber estar palmilhando a estrada da verdade de Cristo, de quem se tornou prisioneiro por toda a vida. 

Do mesmo modo como ele está sofrendo por Cristo, ele pede a Timóteo que não se envergonhe de Cristo nem do seu testemunho em razão do mesmo Cristo; que o depoimento dos dois não seja motivo de ruborização para o discípulo a quem ele escreve com o alfabeto de Deus, tingido de fidelidade e perseverança, não obstante tudo.