segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Perguntas legítimas de quem sofre!

Perguntas legítimas de quem sofre 

 

No Antigo Testamento, a atitude do sofrimento é explicada com outras variantes que valem a pena ser consideradas no âmbito das aflições que permeiam e, de modo consequente, aperreiam a paz interior. No livro de Jó, por exemplo, encontramos a certeza que o justo e temente a Deus – Jó – tem de não ter violado a palavra divina em nada, mesmo que o vendável do sofrimento abata-se sobre si, varrendo-lhe todas as posses e todos os bens da vida, inclusive, a família e a saúde. 

Questionar-se diante de Deus, sobretudo, quando ele se cala, é próprio de nossa humanidade doída pelas agruras existenciais. O próprio nome do personagem bíblico, já nos revela a inquietação que nos faz gritar quando Deus parece surdo, mudo, ausente. Segundo Ludger Schwienhorst-Schönberger “no livro de Jó não se narra um fato histórico único, mas um acontecimento que diz respeito ao ser humano, independentemente de particularismos individuais ou cultuais. Visto dessa forma, o livro de Jó não narra uma coisa do passado, mas algo profundamente atual. Muitas vezes se deixa de lado. Culturas inteiras tendem a disfarçar. Então, não raro irrompe sobre nós com tanto mais avassaladora horribilidade; ficamos, então, mudos e permanecemos como que paralisados diante da pergunta: Onde está Deus? A pergunta ‘Onde está Deus (no sofrimento)?’ já ressoa no nome de nosso ‘portador de sentido’. A palavra ‘Jó’ origina-se, provavelmente, do acadiano ’ajja’abu, que significa, mais ou menos, ‘onde está (meu) pai?’ [...] Portanto, o nome de ‘Jó’ aponta imediatamente para o nome do livro: Onde está meu pai? Onde está Deus?”. 

São questionamentos inevitavelmente legítimos de quem espera em Deus e confia nele, embora os ateus e os ímpios também o façam com tons de deboche e depreciação da fé dos crentes, a exemplo do que encontramos nos salmos: “As lágrimas são meu pão noite e dia, e todo dia me perguntam: ‘Onde está o teu Deus?’” (Sl 42,4); “Por que diriam as nações: ‘Onde está o Deus deles?’” (Sl 79,10;115,12). 

Por sua vez, o salmista também não deixa de externar o descontentamento com as provas de fé que seu Senhor lhe tem aprontado, apresentado, manifestado, isto é, com tudo o que, de alguma maneira, causa-lhe sofrimento, aflição: “Piedade, Senhor! Vê minha aflição! Levanta-me das portas da morte, para que eu publique todo o teu louvor, e com tua salvação eu exulte às portas da filha de Sião!” (Sl 9,14-15); “Vê minha miséria e liberta-me, pois não me esqueço de tua lei. Redime a minha causa e defende-me, pela tua promessa, faze-me viver!” (Sl 119,153-154); “Das profundezas clamo a ti, Iahweh: Senhor, ouve o meu grito! Que teus ouvidos estejam atentos ao meu pedido por graça!” (S 130,1-2). A confiança do orante é a certeza de que seu Deus é fiel e, por isso mesmo, escutá-lo-á no momento oportuno.