quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Dom Lessa: Missão e Apostolado!

 
Dom Lessa, septuagenário:
Missão e Apostolado 

 

No próximo dia 18 de janeiro, quarta-feira, o Arcebispo Metropolitano de Aracaju, Dom José Palmeira Lessa, entrará na lista dos septuagenários. Na ocasião, acontecerá uma missa em Ação de Graças, na Catedral Metropolitana, às 16,30 horas, para a qual todos estão sendo convidados pelo clero e pelo seu Bispo Auxiliar, Dom Henrique Soares da Costa. Certamente, uma data memorável na vida de uma pessoa, que, sentindo-se chamada pelo Senhor Jesus Cristo, resolveu dedicar toda a sua existência ao serviço dos irmãos, em nome do mesmo Cristo e da sua Igreja.
O fato é que ninguém conhece ou pode prever até onde vai chegar o fio condutor de sua vida, de sua existência, especialmente, se ela estiver envolvida pela consciência serena do esforço de resposta ao chamado do Senhor que diz: “Segue-Me!”. Com Dom José Palmeira Lessa não poderia ter sido diferente. Onde será que iria parar aquele garoto nascido no seio de uma família cristã, filho de Antônio de Araújo Lessa e Maria Tereza da Silva Lessa – ambos já falecidos – sendo o primeiro filho de uma lista de 15 irmãos. O lugarejo de seu nascimento, Coruripe, no interior de Alagoas ainda conserva o frescor marítimo dos tempos idos de 1942. “A vila de Coruripe foi criada pela Lei nº 484 de 23 de julho de 1866”. Seu primeiro contato com as letras aconteceu no povoado Areias, e sua primeira professora foi a senhora Otília Virtuosa. Num memorandum organizado pela Irmã Morais, por ocasião de seu jubileu de prata episcopal, encontrei o texto que cito a seguir: “Em 1949, aos sete anos, o menino José Palmeira Lessa migrou com sua genitora e três irmãos, para o Rio de Janeiro, onde seu genitor se estabelecera desde 1947, em busca de melhores condições de vida para sua família. O novo mundo, novos horizontes eram bem diferentes do que havida deixado no Nordeste, a realidade era também distante do sonhado, e as dificuldades surgiam, sofrendo a família as discriminações dos retirantes nordestinos. Assim, ele fez parte da realidade do nosso país, relacionada com a migração, vão para as grandes metrópoles. Firmes na fé e com os olhos voltados para o Deus fiel, Antônio e Maria superaram as dificuldades e encaminharam seus filhos na boa educação e formação cristã”. Não poderia ter sido diferente, num momento em que o país atravessava o desafio de novas descobertas para tantos nordestinos que migravam do Nordeste para outras regiões do imenso território brasileiro, em terras mais pródigas e abastadas. Uma sina de não poucas famílias do grande Nordeste brasileiro. Quem não conhece um parente mais antigo que tenha feito a experiência dos retirantes sertanejos?
Quanto ao caminho vocacional, ele percorreu os meios normais de quem se sente chamado pelo Senhor. Os desafios são sempre os mesmos para todos: a insegurança, a incerteza sobre os passos a serem dados em direção àquilo que, com a ajuda dos formadores e dos diretores espirituais e muita oração também, vai clareando dentro do vocacionado o sentido profundo de sua vocação. É Deus mesmo quem, do mistério de suas escolhas, confirma o chamado por meio da sua Igreja. No dia 7 de março de 1955, ele ingressou no Seminário Arquidiocesano “São José”, do Rio de Janeiro. Estudou Filosofia e Teologia. Ordenou-se sacerdote no dia 3 de julho de 1968. Estudou Parapsicologia no Rio de janeiro e frequentou a Escola Sacerdotal dos Focolares, em Grotaferrata, na Itália. Ali, cursou espiritualidade e pôde realizar a possibilidade de aprofundar sua experiência com Deus. Sobre a sua ordenação episcopal, a Irmã Morais narra também em seu memorandum: “Sagrado Bispo aos 24 de agosto de 1982, sob a imposição das mãos e oração consecratória de sua Eminência, Cardeal Eugênio de Araujo Sales na Catedral São Sebastião do Rio de Janeiro, onde permaneceu como Bispo Auxiliar até novembro de 1987. Ali, Dom Lessa passou a exercer inúmeras atividades [pastorais] procurando viver seu episcopado com autêntico zelo à causa do Reino de Deus, sempre em comunhão com o Bispo Diocesano. Para isso, a partir da fé, a bem da Unidade da Igreja, renunciou, quando se fazia necessário, ideias e posições suas”.
Seu lema episcopal “fragilis cum fragilibus” traduz a mais profunda intenção espiritual e pastoral de aproximar-se dos “mais pequenos” e menos favorecidos, aqueles de quem Cristo pôde dizer: “Tudo aquilo que fizerdes a um desses pequeninos, a mim o fazeis”. Isso para falar de todas as pessoas aflitas e angustiadas no incômodo de suas carências físicas, materiais, espirituais, morais mais profundas. Seu pensamento manifesta a intenção radical da missão do pastor, ao reconhecer que “o homem foi criado por Deus, não para viver explorado e injustiçado. Os filhos de Deus têm o direito a ser tratados como pessoas humanas em todas as dimensões. Daí porque a justiça e a verdade se abraçam para fazer cantiga de um povo que crê em tempos novos e melhores”; ou ainda: “Quando Deus entra na nossa vida, tornamo-nos mais sensíveis e passamos a ser um dom para o outro. Porque quanto mais Ele cresce em nós, mais nos entregamos a Ele no irmão”. São expressões que nos colocam dentro do mistério da vocação exigida pelos desafios da caridade vivida e operada em nome de Cristo. Claro que isso não vale somente para o Bispo, mas para todos os homens de boa vontade que se dispõem a amar Cristo no outro. No entanto, essa consciência paterna do Bispo assume a eloquência testemunhal do próprio Senhor, que lavou os pés de seus discípulos (Jo 13), colocando-se ao serviço de todos, indistintamente.
O seu ministério episcopal realizou-se, inicialmente, na Arquidiocese do Rio de Janeiro, como Bispo Auxiliar, e, depois, ele foi nomeado Bispo da Diocese de Propriá até 1996, de onde foi chamado pela Santa Sé Apostólica para ser o Arcebispo Coadjutor de Aracaju, ao lado de Dom Luciano José Cabral Duarte, hoje arcebispo emérito de Aracaju, que, no momento oportuno, passou o báculo de timoneiro da Arquidiocese ao seu sucessor, no caso, Dom José Palmeira Lessa, em 1998. Mas, qual é a missão de um Bispo? Segundo o Concílio Vaticano II, “como sucessores dos Apóstolos, os Bispos recebem do Senhor, a quem foi dado o poder no céu e na terra, a missão de ensinar a todos os povos e pregar o evangelho a toda criatura, a fim de que os homens todos, pela fé, pelo batismo e pelo cumprimento dos mandamentos, alcancem a salvação (cf. Mt 28,18; Mc 16,15-16; At 26,17s). Para o desempenho desta missão Cristo Senhor prometeu aos Apóstolos o Espírito Santo e enviou-o no dia de Pentecostes, para que com a virtude d’Ele fossem suas testemunhas até aos confins da terra, diante das nações, dos povos e dos reis (cf. At 1,8; 2,1ss; 9,15). Esta missão portanto, que o Senhor confiou aos pastores do seu povo, é um verdadeiro serviço, que nas Sagradas Escrituras significativamente se chama ‘diaconia’ ou ‘ministério’ (cf. At 1,17 e 25; 21,19; Rm 11,13; 1Tm 1,12)” (Lumen Gentium, n. 24). Bonita a missão do Bispo, mas, sobretudo, tomada e revestida de empenhamento! Por isso que ele não age sozinho, mas em espírito de unidade e obediência ao Santo Padre, o Papa, seja ele quem for.
A missão do bispo e seu apostolado também estão marcados por preocupações pastorais mais prementes, que ocupam o coração do pastor: suas alegrias, suas inquietações, suas dores, suas feridas, seus desafios, ao exigir com solicitude paterna a obediência do rebanho, começando pelos padres que lhe prestaram obediência no dia de sua ordenação presbiteral. Às vezes, também há os graves problemas do clero, que o bispo tem de resolver com determinação, lucidez, coragem, sabedoria, discernimento e caridade. Trata-se, pois, de um conjunto de percepções que não são visíveis aos olhos mexeriqueiros que levam muitos à incompreensão e à indiscreta maledicência em relação às atitudes pastorais do bispo. Como qualquer outro homem, dentro da dimensão dos limites das responsabilidades pastorais que lhe são cabidas, o olhar do bispo deve alcançar muitos outros ângulos que as exigências do apostolado lhe impõem.
Pelo dom de sua vida e pela missão que lhe foi confiada pela Igreja, também, na nossa Arquidiocese, nosso respeito, admiração, reconhecimento, apreço e gratidão, no próximo dia 18, com toda a pujança da solenidade de Ação de Graças que elevaremos ao Pai do céu por Cristo, nosso Senhor. Parabéns, Dom José Palmeira Lessa! Que Deus lhe conceda “o espírito do conselho e da fortaleza, da ciência e da piedade, para que, governando fielmente o povo que lhe foi confiado, possa construir a [...] Igreja como sacramento da salvação” (Missal Romano). Amém!