sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Tempus breve est!!

Tempus breve est!



Segunda-feira, dia cinco de setembro, faz um ano que venho colaborando, semanalmente, como colunista do Jornal "Correio de Sergipe", jornal de Aracaju.  Aliás,  somente por curiosidade, nesse mesmo dia também faz 9 anos que  eu me encontrei com o Beato João Paulo II, pela primeira vez, visto que eu estive com ele ainda outras duas vezes...  Tempus breve est!! O tempo é breve, e passa muito rapidamente. Quanta semente da palavra foi jogada no chão produtivo do jornalismo, aqui apresentado ,durante esse ano! Às vezes, nem sabemos onde nasce a inspiração para tanto escrever, mas acredito que, ao menos, alguma coisa positiva deve ter geminado no coração dos leitores sob o vento dialético dos textos, então, partilhados e compartilhados. Foram, exatamente, 52 textos anteriores a esse texto comemorativo, que, agora, o querido leitor tem diante dos olhos para perlustração. Todos catalogados em meus arquivos pessoais para, no momento certo e oportuno, constituí-los em livros que possam conservar, além da textura frágil dos jornais, a fragrância literária de seu conteúdo, tendo sido feita a devida triagem e coletânea conforme os temas afins ou de aproximados estilos de cultura gráfica.
Há exatamente um ano eu escrevia: “No garimpo de tantas perlustrações banais, devemos discernir criteriosamente o que poderia fazer bem ao nosso espírito, ao consolo espiritual de nossas inquietações mais prementes. Portanto, usufruindo bem da oportunidade que nos é apresentada [...], sejam bem-vindos ao passeio literário que iremos fazer no caminho espiritual das reflexões teológicas sobre a literatura paulina, ou em outras sendas de variada coloração literária, conforme forem soprando os ventos dialéticos de nossa tempestiva argumentação”. Não sei se tenho cumprido minha proposta nesse sentido, e sou suspeito para dizê-lo. Desse modo, imagino que, durante esse ano, mesmo sem conhecer o nível e a capacidade compreensível de meu público, talvez, eu tenha dito alguma coisa significativa ao tentar dar sentido ao discurso prenhe de sentimentos e criatividades dignos de sua apreciação. Com certeza, ao escrever, revelei um pouco de minha alma aos leitores. Quem não conhece o Pe. Gilvan Rodrigues, sabe, pelo menos, um pouco das inquietações e das reflexões que rondam sua inteligência e povoam seu coração. Como escrevera o Pe. Fábio de Melo, em seu mais novo livro – claro que em contexto diferente de conteúdo e expressão vocabular – nós “estamos no que falamos. Ou porque escondidos, ou porque revelados. Mas, também estamos no que ocultamos”. Ou ainda: “A escritura é uma aventura perigosa. Nela o coração humano se registra e se revela. [...] A palavra segura o significado do vivido, desafia o tempo, engana a cronologia. A vida vivida encontra abrigo na casa das palavras”. Mas, também, a palavra escrita tem o poder da perenidade do dito que acoberta a existência além do instante fugidio que se esconde por trás do véu do tempo.
O germe da palavra matura no silêncio da reflexão, no entretenimento da alma consigo mesma, como diria Platão. O pensamento cresce e se desenvolve como fruto nas árvores da imaginação. Talvez, o pensar ajude-nos a retardar o envelhecimento do cérebro onde imaginamos que moram as ideias forjadas pela inteligência ou, pelo menos, livre-nos do estresse da vida moderna longe da reflexão que, de tanto não pensar nem refletir, perde-se no labirinto da ociosidade intelectual, cuja infertilidade é incapaz de reorientar o equilíbrio e o sentido da vida. A verdade é que a leitura de um texto pode abrir novos horizontes dentro da alma, dentro da extensão do espírito. Embora não faça parte da cultura do brasileiro, a exemplo de um hábito tão natural entre outras culturas – mesmo porque os livros também são caros – é importante cultivar esse costume, a fim de que novas inspirações possam motivar o embalo da existência. As janelas da alma precisam ser abertas em diferentes panoramas linguísticos e literários. Assim, as descobertas do saber podem ser intensificadas pelo poder do conhecimento das palavras, das palavras que convidam ao entusiasmo da vida, ao encanto de cada novo alvorecer, trazendo consigo os encantos vividos na surpresa do desconhecido.
Para comemorar esse ano de escritura, gostaria de relembrar expressões arrancadas da intuição do momento, qual florilégio oportuno de meditação. Falando sobre São Paulo: “Com certeza, dois milênios depois, as vicissitudes da história e os percalços do avanço da modernidade levaram o homem à moldura de novas possibilidades e invenções, novas ciências aprofundadas no aperfeiçoamento das técnicas, novos contextos culturais, novas metodologias de apreciação de si mesmo, embora ele continue o mesmo, isto é, imensamente inquieto na vasta extensão de sua índole interior, sedenta de espiritualidade, de plenitude, enfim, de Deus mesmo. O avanço das técnicas e das ciências não preenche o coração do homem. E o vazio de uma vida sem sentido parece alagar-se sempre mais na globalização irrefreável do destino humano”.
Sobre o trânsito de Aracaju: “O trânsito não é somente para os motoristas de automóveis! Eu concordo com o fato de que ciclistas e pedestres também deveriam ser multados por pardais. Por que não? Gostaria que câmeras flagrassem os distraídos quando os carros tentam parar, e eles estão com a cara para lua, ou quem sabe, para  o sol. Aliás, já me passou pela mente a ideia de que todos os pedestres deveriam levar um apito consigo para terem seus direitos mais assegurados. Impressionante como o som de um apito é mais respeitado do que as pessoas. Mas, tem de ser daqueles apitos fortes que, quando o motorista escuta, pensa que está sendo perseguido pela polícia. Pedestres e ciclistas, vamos fazer a revolução do apito. Não saiam de casa sem ele. Vamos gritar no trânsito caótico de Aracaju a não invisibilidade de nosso ser, de nosso existir”.
Sobre política: “Ora, no Brasil há muitas vozes dissonantes e desencontradas que defendem ou atacam a descriminalização do aborto e o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Fanáticos defendem a possibilidade da legalização desses dois tipos de comportamentos de prevaricação da moral e da ética quanto à dignidade da pessoa humana. Alegam a laicidade do Estado, a fim de não dar ouvidos a princípios religiosos porque o Estado deveria estar na superioridade de condições para decidir sobre questões desse nível, sem que rumores de discordância cheguem a perturbar a consciência, acima de qualquer suspeita, de sua independência e legitimidade”.
Sobre as angústias existenciais, quanto à cruz: “Se não aceitamos a cruz, acabamos tornando-nos ‘inimigos da cruz de Cristo’, como São Paulo confessa chorando (Fl 3,18). E quantos no mundo moderno ainda se comportam assim!. Embora seja uma palavra incômoda, suas quatro letras escondem atrás de si a plenitude do ato salvífico de Deus, que nós recusamos com tanta facilidade. Indubitavelmente, ela contém o mistério inaudito da nossa salvação. Instrumento de dor e de suplício, ela nos escancara as portas do paraíso, cuja eternidade não possui o seu fundamento definitivo sobre a transitoriedade dessa terra. Desse modo, a teologia da cruz está mais próxima de nós do que possamos imaginar. Com efeito, ela traduz, na radicalidade mais profunda do nosso ser, o misterioso confronto de nossas imperfeições com ‘o estado de Homem Perfeito, a medida da estatura da plenitude de Cristo’ (Ef 4,13) no mistério insondável de sua Encanação”.
Sobre o beato João Paulo II: “No caso do beato João Paulo II, temos a oportunidade de ver gripando os degraus dos altares alguém que ficou mundialmente conhecido durante os longos anos de pontificado. Um homem do nosso tempo, que viveu e sofreu as feridas do nosso tempo, tentando mostrar a face oculta de Deus nos acontecimentos da história e da sua própria história pessoal. Em uma de suas últimas mensagens, ele apontava a situação dramática da humanidade, atravessada pela imensa força da perversidade do mal. O reino das trevas parecia cobrir o rosto luminoso de Deus com a bruma de sua espessa escuridão”.
Após essa breve retrospectiva de textos lidos ao longo desse ano, espero poder continuar tendo a honra prestigiosa da leitura de muitos de meus assíduos leitores.  A todos, meu carinho e minha gratidão, pois, o fruto de nosso trabalho só tém valor à medida que encontra correspondência do outro lado da ponte da intuição provocativa da expressão literária.