segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Sete Bilhões!!

Sete Bilhões



Sete bilhões de habitantes no destruído planeta Terra. Ele não vai suportar. Talvez, ele baixe mais um pouco e dificulte sua permanência na órbita do universo. Os homens desesperados preocupam-se com as consequências dessa cifra bilionária. Com certeza, os desafios da sobrevivência dos povos no circuito internacional da aldeia global recrudescerão. Tornar-se-ão mais graves e contundentes. 

Mais gente na terra é sinônimo de tudo mais: mais comida, mais competição, mais indiferença, mais ganância, mais pobreza, mais miséria, mais doenças, mais exploração, mais guerra, mais dinheiro, mais arrogância, mais destruição, mais violência, mais e mais e mais decida você, caro leitor, o quê! Mais gente pode significar também menos: menos espaço, menos condições de vida digna, menos meio ambiente, menos alimentação, menos controle civilizatório, menos e menos e menos, decida você o quê! Uma lista pessimista, não? Vejamos outros mais positivos: mais educação, mais paz, mais tolerância, mais companheirismo, mais solidariedade, mais fraternidade, mais proximidade universal, mais atenção aos países mais pobres, às nações que vivem na indigência de todo tipo e ordem. O fato é que o homem destruiu tanto a natureza em sua beleza original, que agora ele vai ter de pagar caro para manter o padrão de exigências ambientais favoráveis ao seu próprio convívio. Diante de tantos desafios mais urgentes de sobrevivência na terra, espero que a humanidade não decida matar mais nem desrespeitar mais a dignidade humana pelos fins perversos que garantem o bem-estar de alguns em detrimento do desaparecimento de outros. 

A terra tem lugar para todos. Planejamento familiar, controle de natalidade, produção de alimento, a não destruição do meio ambiente, a falta de espaço, tudo deve levar o homem a desenvolver condições de vida melhor para todos. A propósito, muita gente desconfia dos pronunciamentos da Igreja e dos papas, mas, ela, perita em humanidade, não deixa de fazer sua reflexão quanto à possibilidade de superação dos conflitos e dos obstáculos emergenciais em que o homem, não raras vezes, dispensando Deus do horizonte de sua construção social, econômica, política, intercultural, encontra-se enrascado por conta de sua teimosia em imaginar-se senhor de si mesmo e, por que não dizer, de toda a criação. Na verdade, a Igreja não é contra o progresso ou o desenvolvimento. Nesse sentido, julgo oportuno o pensamento do Papa Bento XVI, quando afirma: “Quando o empenho pelo bem comum é animado pela caridade, tem uma valência superior à do empenho simplesmente secular e político. [...] A ação do homem sobre a terra, quando é inspirada e sustentada pela caridade, contribui para a edificação daquela cidade universal de Deus, que é a meta para onde caminha a história da família humana. Numa sociedade em vias de globalização, o bem comum e o empenho em seu favor não podem deixar de assumir as dimensões da família humana inteira, ou seja, da comunidade dos povos e das nações, para dar forma de unidade e paz à cidade do homem e torná-la em certa medida antecipação que prefigura a cidade de Deus sem barreiras” (Caritas in Veritate, n. 7). A visão do Papa quanto aos problemas e soluções tecnológicos na realização plena do homem, enquanto tal, está dentro do enredo de uma civilização que não se limita somente à sua autossuficiência ou ao seu bastar-se a si mesma. 

E o Papa vai mais longe: “O risco do nosso tempo é que, à real interdependência dos homens e dos povos, não corresponda a interação ética das consciências e das inteligências, da qual possa resultar um desenvolvimento verdadeiramente humano. Só através da caridade, iluminada pela luz da razão e da fé, é possível alcançar objetivos de desenvolvimentos dotados de uma valência mais humana e humanizadora. A partilha dos bens e recursos, da qual deriva o autêntico desenvolvimento, não é assegurado pelos simples progresso técnico e por meras relações de conveniência, mas pelo potencial de amor que vence o mal com o bem (cf. Rm 12,21) e abre à reciprocidade das consciências e liberdades” (Caritas in Veritate, n. 9). A verdade é que o Papa não tem interesse em dar soluções práticas aos desafios impostos pelo momento histórico em que vive a humanidade. Na qualidade de pastor e evangelizador, sua preocupação tem a ver com o sentido de uma sociedade não esquecida de Deus, o único que pode favorecer, por meio do próprio dom da inteligência posto no homem, a dinâmica de salvação também em relação às lutas temporais do homem na terra. Tanto que ele confessa, com serena, convicta e desconcertante simplicidade: “A Igreja não tem soluções técnicas a oferecer e não pretende ‘de modo algum imiscuir-se na política dos Estados’, mas tem uma missão ao serviço da verdade para cumprir, em todo tempo e contingência, a favor de uma sociedade à medida do homem, da sua dignidade, de sua vocação. Sem verdade, cai-se numa visão empirista e cética da vida, incapaz de se elevar acima da ação porque não está interessada em identificar os valores – às vezes, nem sequer os significados – pelos quais julgá-la e orientá-la. A fidelidade ao homem exige a fidelidade à verdade, a única que é garantia de liberdade (cf. Jo 8,32) e da possibilidade de um desenvolvimento integral do homem” (Caritas in Veritate, n. 9). Dentro do redemoinho das inquietações do Santo Padre está envolvida a humanidade inteira e todas as ações dos homens, sejam eles líderes governamentais ou cidadãos comuns. 

Assim, todos nós somos convidados a dar nossa colaboração, a fim de que possamos construir na terra um lugar digno e decente para todos, começando pelas pequenas ações no lugar onde moramos. A vida do planeta depende de todos e de cada um na singularidade de seu envolvimento com o conjunto global. A morte do planeta é a morte do homem. Destruindo a terra, destruímos nosso habitat comum. No entanto, não o podemos fazer, com competência e dignidade, se nos imaginamos donos do que não nos pertence, pois o milagre criacional divino continua agindo na preservação do planeta que o homem tenta destruir com sua arrogância e ação mesquinha e deteriorante. 

Na constituição social de sete bilhões de pessoas, o planeta terra seria mais belo e bonito se o homem se desse conta da beleza que o circunda, no esplendor do nascer ou pôr do sol, na luminosidade tímida da lua ou do brilho distante das estrelas, no encanto dos mansos regatos, no verde das matas e florestas, ou no frescor paisagístico das montanhas geladas. Mais do que isso: se ele se desse conta da própria riqueza e grandeza que carrega dentro de si mesmo, obra-prima da criação. Conta-se que um santo converteu-se lendo uma frase de Santo Agostinho que dizia: os homens sobem às montanhas para contemplar a beleza da natureza, cruza vales e montes admirando a criação, e passam ao lado de si mesmos, na indiferença. O fato é que somos mais que a natureza, mais que o universo, mais que a constituição sólida e material de tudo que existe, pois, criados à imagem e semelhança divinas, temos consciência de nossa existência na terra, adormecida na inconsciência de seu próprio existir.