sexta-feira, 1 de julho de 2011

Beato João Paulo II

Beato João Paulo II 


Eu já tive a oportunidade de afirmar que “os santos vivem entre nós!”. Portanto, a beatificação do Papa João Paulo II – que acontece hoje no Vaticano – é a prova viva dessa afirmação. Todos sabemos que vivemos num mundo totalmente alheio a qualquer referência que possa ser a vida de santidade. Por mais estranho que pareça, nada do que a Igreja prega e ensina é visto com bons olhos pela sociedade que se anuncia laica. Laicidade virou, erroneamente, sinônimo da não religião.
Os meios de comunicação estão aí, enchendo os nossos olhos do que é a vida correta e, eticamente, bem vivida no turbilhão envolvente da insensatez humana: traição dentro da vida matrimonial; vida de namoro desregrada, com o maior número de “relações amorosas” que o bicho homem puder suportar; preservativos distribuídos aos filhos, sem nenhum critério educacional, contanto que suas taras sejam satisfeitas; nenhuma tapinha nas crianças quando elas erram, para não as traumatizar; a liberação total de todos os instintos e tendências homossexuais; a legitimidade da proibição de sinais religiosos em lugares públicos, pois eles agridem a verdadeira religião dos ateus; a ausência radical de qualquer tipo de oração que eleve o homem na direção de seu Criador; enfim, tantas outras situações da vida correta, que somente tem precipitado a vida social no inferno, cujas portas satanás as tem alargado sempre mais. A televisão é mais verdadeira que a Bíblia. Tudo o ela afirma é dogma e verdade de fé. A Bíblia é mentirosa. Depois, aparecem os delinquentes, os esquizofrênicos, os psicologicamente perturbados, aqueles que cometem crimes atrozes e inesperadamente chocantes, e ainda temos o cinismo de colocar a culpa em Deus. Por que Ele permitiu? Por que Ele se calou? Por que não impediu que crianças inocentes fossem mortas, assassinadas, de modo tão brutal? Se Ele existe, por que não se mostra poderoso, onipotente? O problema é que o homem se lembra de perguntar por Deus apenas na hora da desgraça, mas, esquece-se de que ele, pobre e arrogante criatura humana, tem expulsado Deus de todos os âmbitos de sua vida. Na verdade, ele condenou todos os métodos e meios através dos quais Deus gostaria de fazer ouvida a sua voz. E a voz de Deus, que fala no silêncio do coração do homem, foi sufocada pelo barulho da modernidade “autofalante”, que fala a si mesma, tentando encontrar o próprio rumo da vida distante de Deus.
Quantas vezes por dia, você se lembra de Deus? Quantas vezes invoca o seu Nome e deseja a sua presença? Cafonice? Vergonha? Sem Deus é impossível uma vida de santidade. E ela está ao nosso alcance. Contudo, precisamos decidir-nos com coragem. Recebendo a graça santificante do Batismo, todos fomos enxertados na vida da santidade de Deus, que Cristo nos garantiu com sua Paixão, Morte e Ressurreição. Ser santo é permitir que a nossa vida seja identificada com a vida de Cristo. Tantos foram e são os testemunhos da História do Cristianismo, ao longo dos séculos. E os tempos modernos também têm apresentado os seus santos. Como sabemos, a beatificação é o primeiro passo para que uma pessoa seja declarada santa. No caso do beato João Paulo II, temos a oportunidade de ver gripando os degraus dos altares alguém que ficou mundialmente conhecido durante os longos anos de pontificado. Um homem do nosso tempo, que viveu e sofreu as feridas do nosso tempo, tentando mostrar a face oculta de Deus nos acontecimentos da história e da sua própria história pessoal. Em uma de suas últimas mensagens, ele apontava a situação dramática da humanidade, atravessada pela imensa força da perversidade do mal. O reino das trevas parecia cobrir o rosto luminoso de Deus com a bruma de sua espessa escuridão. Esta foi sua última palavra expressa como oração: “À humanidade que, então, parece desfalecida e dominada pelo poder do mal, do egoísmo e do medo, o Senhor Ressuscitado oferece como dom o seu amor que perdoa, reconcilia e reabre o ânimo à esperança. É amor que converte os corações e doa a paz. Quanta necessidade o mundo tem de compreender e de acolher a Divina Misericórdia! Senhor, que com tua morte e ressurreição revelas o amor do Pai, nós cremos em Ti e com confiança Te repetimos isso hoje: Jesus, eu confio em Ti, tem misericórdia de nós e do mundo inteiro”.
Não por acaso, a beatificação do Papa João Paulo II acontece na celebração do Segundo Domingo da Páscoa, dedicado por ele à festa da Divina Misericórdia, uma devoção que nasceu na Polônia, sua terra natal. Seu nome de batismo era Karol Wojtyla, que nasceu no dia “18 de maio de 1920 em Wadowice, um pequeno centro distante de Cracóvia, cerca de uma dezena de quilômetros, na Polônia meridional, de uma modesta família burguesa” (Dicionário Enciclopédico dos Papas). Sua vida foi um tanto atribulada por causa da situação histórica em que se encontrava o mundo e, especialmente, sua nação de origem. Desse modo, “as angustiantes vicissitudes da nação polonesa que em 1933 foi brutalmente agredida e subjugada pelos nazistas e pelos exércitos vermelhos (soviéticos) contribuíram para temperar o caráter do jovem Wojtyla, para torná-lo particularmente forte e corajoso e formá-lo tanto espiritualmente quanto intelectualmente” (Dicionário Enciclopédico dos Papas). Nesse contexto, ele tornou-se um homem de fibra, de uma envergadura tal que, uma vez, eleito Papa, não obstante todas as dificuldades apresentadas e impostas pelo domínio marxista que imperava no seu país, ele defendeu com determinação poloca a honra e a dignidade do povo de sua nação. Conta-se que, certa ocasião, as forças russas ameaçaram invadir o seu país, e ele reagiu veementemente: “Se vocês invadirem o meu país, eu esquecerei que sou Papa e irei morrer defendendo a minha nação! Nunca mais vou permitir que massacrem o meus país como já o fizeram, um dia”. E todo o mundo se aquietou.
Sua ascensão à Cátedra Petrina quebrou a tradição que, até então, colocava apenas papas italianos no topo da hierarquia da Igreja Católica durante os últimos 455 anos. A eleição aconteceu no dia 16 de outubro de 1978, quando, uma vez eleito, ele assumiu o nome de João Paulo II. Convém lembrar que o nome que o Papa assume é de sua livre escolha, conforme as motivações espirituais, pastorais ou, quem sabe, políticas, quanto à orientação catequética de sua missão apostólica e evangelizadora. Claro que a vida de outros papas pode influenciar também na escolha. Vindo de uma nação “distante”, assim foi seu primeiro pronunciamento no pórtico central da Basílica Vaticana: “Louvado seja Jesus Cristo! Caríssimos irmãos e irmãs, estamos ainda todos angustiados após a morte do nosso muitíssimo amado papa João Paulo I. E eis que os eminentíssimos cardeais chamaram um novo bispo de Roma. Chamaram-no de um país distante..., distante, mas sempre tão vizinho pela comunhão na fé e na tradição cristã. Tive medo ao receber esta nomeação, mas o fiz no espírito de obediência a Nosso Senhor Jesus Cristo e na confiança total para com sua santa Mãe, a Santíssima Nossa Senhora [...]” (Dicionário Enciclopédico dos Papas). Portanto, toda a sua vida vocacional foi uma resposta sincera e coerente ao apelo de Cristo que, um dia, disse-lhe: “Segue-me”.
Até o fim de sua vida, nos momentos angustiantes de sua hora derradeira, no testemunho de seu sofrimento visível aos olhos televisivos do mundo, quando sua voz silenciara, ele respondeu com fidelidade extrema ao “segue-me” de Cristo. Foram quase 27 anos de pontificado. Sua morte aconteceu no dia 2 de abril de 2005. Eu tive o privilégio de encontrar-me com ele três vezes, mas não estava em Roma naquele momento. Morei durante quatro anos na Cidade Eterna. Saí 20 dias para uma excursão em Israel, o Papa morreu, e eu não pude acompanhar o funeral. Voltei à Itália no dia do sepultamento, oito de abril, quando as personalidades que vieram dar último adeus ao Papa defunto já haviam se dispersado pela cidade de Roma. Presidindo à Santa Missa das Exéquias, entre outras afirmações, o então Cardeal Joseph Ratzinger, hoje Papa Bento XVI, que o beatifica seis anos depois, assim se expressou: ‘“Segue-me’, diz o Senhor ressuscitado a Pedro, como sua última palavra a este discípulo, escolhido para apascentar as suas ovelhas. ‘Segue-me’ – esta palavra lapidária de Cristo pode ser considerada a chave para compreender a mensagem que vem da vida do nosso amado Papa João Paulo II, cujos despojos mortais depomos hoje na terra como semente de imortalidade – o coração cheio de tristeza, mas também de jubilosa esperança e de profunda gratidão” (Dicionário Enciclopédico dos Papas).
Na festa da Divina Misericórdia e no dia da Beatificação do Papa João Paulo II, gostaria de concluir, manifestando a minha auspiciosa e fraterna saudação ao Pe. José Genivaldo Garcia, que com seus paroquianos, celebra a Festa do Padroeiro, Jesus Ressuscitado, no Bairro Jardins. Cristo Ressuscitado ilumine a vida de todos para o testemunho fiel e alegre da certeza inabalável de sua Ressurreição.