sexta-feira, 1 de julho de 2011

São Pedro e São Paulo no dia do Papa

São Pedro e São Paulo no dia do Papa


Na solenidade dos santos Apóstolos São Pedro e São Paulo, a Igreja celebra, também, o dia do Papa. Já nos primeiros séculos do cristianismo, Eusébio de Cesareia escrevia o seguinte: “Dionísio, bispo de Corinto, declara aos romanos que ambos simultaneamente sofreram o martírio, escrevendo: ‘Numa só memória, unistes o que plantaram Pedro e Paulo, em Roma e em Corinto. Efetivamente, ambos plantaram em nossa cidade e de modo semelhante nos instruíram; e após também terem juntos ensinado na Itália, sofreram o martírio na mesma ocasião’”. Com importância fundamental para os cristãos de todos os tempos, os dois mártires de Cristo continuam ensinando, pelos séculos afora, a fé que receberam de Cristo e testemunhando a coragem interior do seguimento radical.
São Pedro – como sabemos pelo testemunho escriturístico bíblico – encontrava-se entre os primeiros seguidores de Jesus, tendo sido chamados à beira do Lago da Galileia, pois eram pescadores: “Caminhando junto ao mar da Galileia, viu Simão e André, o irmão de Simão. Lançavam a rede ao mar, pois eram pescadores. Disse-lhes Jesus: ‘Vinde em meu seguimento e eu farei de vós pescadores de homens’. E imediatamente, deixando as redes, eles o seguiram” (Mc 1,16-18). O contato inicial com Jesus vai despertar no coração de Pedro, e de todos os outros seguidores de Jesus, a vontade de fazer a sua opção fundamental pelo Mestre. No entanto, sabemos pela experiência humana, que a atitude de entrega e abandono sem reservas a Jesus, necessita de amadurecimento, o que só pode ser feito por meio do engajamento progressivo da consciência e do coração por uma vida semelhante à de Jesus. Tanto que, olhando mais de perto a vida de Pedro, vemos seus arroubos de entusiasmo, a ponto de “dar a vida pelo Mestre” (Lc 22,31-34), e, mais tarde, na hora da traição e da agonia, simplesmente, vemo-lo dizer que não conhece Jesus. Pior ainda, afirmar que nunca o viu nem sabe quem ele é (Lc 22,54-62). Que negação espinhosa plantada no coração de Cristo que, naquele instante dramático, “fixou olhar em Pedro” (Lc 22,60)!.
Amigo do Mestre, companheiro de Jesus, Pedro ainda não tinha compreendido o alcance do seguimento nem se demonstrado estar em condições de confirmar seus irmãos na fé. Mas, diz-lhe Jesus: “Quando, porém, te converteres, confirma teus irmãos” (Lc 22,32). Essa confirmação virá mais tarde, após a ressurreição de Cristo, também, no contexto da pescaria, às margens do Lago de Tiberíades (Jo 21). Comentando as oscilações comportamentais de Pedro, eis o que o Papa Bento XVI escreveu,: “A generosidade impetuosa de Pedro não o protege, sem dúvida, dos perigos relacionados com a debilidade humana. Isto é algo que nós também podemos reconhecer em nossa própria vida. Pedro seguiu Jesus com ímpeto, superou a prova da fé, abandonando-se a Ele. Mas chega o momento em que ele também cede ao medo e cai: trai o Mestre (cf. Mc 14,66-72). A escola da fé não é um caminho triunfal, mas um caminho semeado de sofrimento e de amor, de provas de fidelidade absoluta, conhece amargura e a humilhação da negação: o arrogante experimenta em suas próprias carnes a humildade. Também Pedro deve aprender a ser fraco e necessitado do perdão. Quando por fim cai a sua máscara e compreende a verdade de seu coração fraco de pecador crente, explode num choro libertador de arrependimento. Depois desse pranto já está pronto para a sua missão”. Certamente, o pensamento do Papa vale, de igual maneira, para todos nós, a fim de que, com lucidez e convicção, possamos refletir nosso agir diante de Cristo, que também chama a cada um de nós ao seguimento. Esse é o nosso tempo, essa é a nossa hora.
Quanto ao testemunho pessoal de São Paulo, o que poderíamos dizer? Na verdade, mergulhando nas águas profundas de seu legado literário, qual testamento espiritual de sua intimidade com Cristo, jamais esgotaremos as possibilidades de reflexão. Com efeito, cada rastro de suas memórias psicológicas e espirituais, é um clarão de intensa espiritualidade que, ao mesmo tempo, enche-nos de encanto e temor. Encanto pelo seu testemunho, temor pela covardia com que ainda assumimos a timidez de nossa fé, sem passos corajosos na direção de Cristo. No momento, apoiados pela reflexão do Papa Bento XVI, fixemos o pêndulo de nossa meditação na centralidade de Cristo na vida de São Paulo. Com frequência, refiro-me aos textos do Papa porque considero que eles são muito iluminados e inspiradores. Quem melhor do que o Papa poderia colocar-nos em sintonia com Cristo no ensinamento e aprofundamento da nossa fé?
É o Papa Bento quem se pergunta: “Ao olhar para Paulo, poderíamos formular esta pergunta genérica: como se produz o encontro de um ser humano com Cristo? No que consiste a relação que deriva dele? Pode-se dizer que a resposta de Paulo compreende dois momentos. Em primeiro, Paulo nos ajuda a entender o valor absolutamente fundamental e insubstituível da fé. Isto é o que escreve em sua carta aos Romanos: ‘Esta é a nossa tese: o homem se torna justo através da fé, independentemente da observância da Lei’ (3,8). E também na carta aos Gálatas: Sabemos, entretanto, que o homem não se torna justo pelas obras da Lei, mas somente pela fé em Cristo [...] (2,15)”. O segundo momento, propiciado pelo encontro com Cristo à luz da fé, “tem a ver com o conteúdo fundamental de sua conversão, a nova direção de sua vida como resultado de seu encontro com Cristo ressuscitado”. Por conseguinte, o Papa conclui sua alocução assim: “Esta compenetração mútua entre Cristo e o cristão, característica do ensinamento de Paulo, completa seu discurso sobre a fé. A fé de fato, embora nos una intimamente com Cristo, evidencia a distinção entre nós e Ele. Mas, segundo Paulo, a vida do cristão possui também um componente que poderíamos chamar ‘místico’, porque comporta uma identificação nossa com Cristo e de Cristo conosco”. E mais adiante, ele prossegue: “Por um lado, a fé deve nos manter em atitude constante de humildade frente a Deus, inclusive de adoração e de louvor em relação a Ele. E aquilo que somos como cristãos o devemos só a Ele e à sua graça [...]. Por outro lado, pertencer radicalmente a Cristo e o fato de que ‘estamos nele’ devem infundir-nos uma atitude de total confiança e de imensa alegria”.
Na coerência da atitude cristã, o Papa Bento XVI tem insistido muito na importância capital do encontro com Cristo e, de modo consequente, da plena manifestação da alegria desse encontro. Isso, ele o tem demonstrado com seu próprio testemunho, sempre tranquilo e sereno, especialmente, quando vilipendiado e até mesmo odiado por setores do mundo moderno. Vimos ao longo de seu pontificado já no sexto ano, muitos abalos e acusações indevidas, tentando macular a sua pessoa e minar a sua autoridade moral e religiosa, por conta da podridão ética do paganismo hodierno em que se encontra mergulhada a humanidade. A missão do Papa, em qualquer tempo ou época, é a de oferecer Cristo como antídoto seguro contra os vírus mortíferos da libertinagem comportamental dos homens. Somente Ele, Cristo, é o “otimismo radical” face ao laxismo deletério das consciências.
Celebrando o dia do Papa na memória de São Pedro e São Paulo, gostaria de concluir com a mensagem cristocêntrica do início do pontificado de Bento XVI: “Não tenhais medo de Cristo! Ele não tolhe nada e dá tudo. Quem se entrega a Ele, recebe o cêntuplo. Sim, abri as portas a Cristo e encontrareis a verdadeira vida. Amém”. Logicamente, a exortação do Romano Pontífice traduz o sentido profundo de seu desejo pastoral como pastor supremo e visível da Igreja de Cristo.