sexta-feira, 1 de julho de 2011

Santos Inocentes

Santos Inocentes

No Brasil, todos os políticos que são acusados de algum crime contra a justiça ou contra o direito, deveriam ser considerados “santos inocentes”. Às vezes, dá-me pena ver tanta cara lisa e lavada debochando do povoléu que, desmemoriado, ainda faz com que eles voltem a assumir algum cargo político, quando, na verdade, deveriam ser varridos, de uma vez por todas, do cenário de um país que diz viver a democracia, inclusive, devolvendo o dinheiro roubado dos cofres públicos. Todavia, os “santos inocentes” nunca pagam como deveriam por sua roubalheira. Por exemplo, por que será que alguns políticos, visivelmente, corruptos, ainda têm o direito de eleger-se a um cargo público? Tomara que cheguemos ao tempo em que, no máximo, um candidato se reeleja somente uma segunda vez na vida e nunca mais! Pelos menos, melhoraríamos a variação delinquente de muitos de nossos representantes. O mesmo deveria valer para quem ocupa algum cargo nos ministérios do Governo Federal.
Como é possível permitir que candidatos que já passaram várias vezes pelo poder, demonstrando a mesma mania de corrupção, enquanto estavam à frente dos mandatos – ainda se legítimos e outorgados pelo povo, responderam a processos judiciais, depois de sérias acusações de desvio do dinheiro público – voltem à possibilidade de reeleição, mesmo não tendo feito nada pelas reais carências e necessidades do povo, tais como saúde, educação, saneamento básico, moradia digna etc.? Na verdade, muitos discursos de políticos, sobretudo quando eles já se encontram no poder, não passam de verdadeiras falácias enganadoras, isto é, argumentos dialeticamente bem elaborados que, na compreensão do povoléu ou da patuleia ignorante – “Mas este povo, que não conhece a Lei, são uns malditos!” (Jo 7,49) – são belíssimas obras de arte oratória, aceitáveis e plausíveis. Assim, com artimanha e sutileza demagógica, eles entram e saem dos cargos públicos com o mesmo descaramento de sempre. Fazer o quê? Bem diz o conhecido ditado que o povo tem o governo que merece; o palhaço que merece; o cacique que merece; o coronel que merece; o déspota que merece; o caudilho que merece! E vai-se lá saber o que mais que o povo e nós merecemos!
Num país com grandes e graves desproporções entre ricos e pobres, pobres ladrões de galinha e ricos ladrões de colarinho branco, alguns que vão pra cadeia e outros que vivem o “habeas corpus” da impunidade ao ar livre, ainda estamos longe de ver aumentar o equilíbrio social em conjunturas que favoreçam a igualdade de direitos punitivos em todos os níveis democráticos. O reflexo mais nítido dessa perversa realidade paradoxal e contundente está presente no grau de educação que o a população recebe. Sem instrução, sem condições de exigir os seus direitos. Claro que isso é favorável à comodidade do Estado. Como diria Voltaire, na sua fina ironia filosófica, quando o populacho se põe a refletir, tudo está perdido. Por exemplo, podemos constatar a imensa diferença de comportamento entre um europeu, quando denunciado por seus crimes políticos ou contra a humanidade, como nos casos de guerra, e um latino americano. A vergonha da suspeita do europeu, leva-o à renúncia imediata de sua função, quando não, ao suicídio. Sem dúvida, não podemos esquecer-nos das exceções, pois, também na Europa há políticos que são verdadeiros “santos inocentes”, de um cinismo deslavado e impressionante. Todavia, no nosso país, a situação vai sendo empurrada com a barriga, até que tudo acaba em pizza. E, quando alguém resolve renunciar, é para não desacreditar ainda mais a figura do governo. Santas desculpas inocentes! É o caso de citar o diálogo entre dois políticos que se encontraram em Brasília. Um disse ao outro: “Lá na minha região, estão falando muito do senhor!”. E o outro, desconfiado, comentou: “Mas, duvido que consigam provar alguma cosa contra mim!”.
Então, como reza o rifão do direito, “todo mundo é inocente até que se prove o contrário”. Todavia, como no Brasil o contrário é sempre o contrário, continuaremos acreditando que muitos políticos brasileiros, tanto no comportamento quanto nas palavras de autodefesa, são realmente autênticos protótipos de santos inocentes.