sábado, 2 de julho de 2011

Santo Antônio et alii


Santo Antônio, São João e São Pedro

Santo Antônio, São João e São Pedro, certamente uma trilogia muito presente na vida do Nordestino, seja por devoção ou por embalo nas festas juninas dos sertanejos. Cada um, dentro das características de sua conversão e de seu tempo, apresenta o testemunho de amor e fidelidade a Cristo, através de uma vida santa. Assim, os santos são homens colocados por Deus na história, a fim de que pudessem ajudar-nos na nossa própria conversão pessoal. Conforme a cronologia do mês que nos presenteia tão ilustres figuras no horizonte do Cristianismo, gostaria de falar sobre cada um deles, no intento de que, ao lado dos pedidos de casamentos e da participação em festas populares, com sabores, totalmente, contrários à própria vida dos santos, vejamos mais do que simples ocasiões para pedidos e festas. De fato, todos são testemunhas fieis do amor incondicional a Jesus Cristo e exemplos de vida de santidade, enquanto consequência serena da responsabilidade no amor ao Filho de Deus.
Santo Antônio, sacerdote e doutor evangélico, cujo nome de Batismo era Fernando Martins, nasceu em Lisboa, no final do século XII. Sua devoção, afastando-se das fronteiras da piedade popular, “ultrapassou as soleiras da Igreja Católica, suscitando o interesse também dos ortodoxos, budistas e mulçumanos. Onde tenham chegado os franciscanos, aí os povos, sem distinção de fé religiosa, o acolheram como um homem de Deus que com o seu poder taumatúrgico vai ao encontro das dores e das expectativas da humanidade de todos os tempos” (Enrico Pepe). Aos quinze anos, ele entrou para o mosteiro dos monges agostinianos de São Vicente. Depois, quis tornar-se franciscano para melhor aproveitar seu ideal vocacional, de modo que, com a autorização de São Francisco, pôde ensinar Sagrada Escritura aos recém-criados filhos de São Francisco, o pobrezinho de Assis, aonde ele foi parar por conta de que os ventos fortes de uma tempestade, quando ele voltava doente do Marrocos para Portugal, levaram sua nave para as costas da Sicília. Muitos ensinamentos seus revelam o toque da santidade, de sua obediente e íntima amizade com Cristo. Falando da coerência de vida entre o falar e o viver, ele argumentava: “A palavra é viva quando são as obras que falam. Cessem, portanto, os discursos e falem as obras. Estamos saturados de palavras, mas vazios de obras. Por este motivo o Senhor nos amaldiçoa, como amaldiçoou a figueira em que não encontrara frutos, mas apenas folhas”. Na verdade, Cristo, comparando o cristão à figueira, quis dizer que ele deve dar frutos, e bons frutos, em todas as estações dos anos de sua vida.
São João, por sua vez, apareceu na história de Cristo por ter sido apresentado como o precursor do Messias. Diferente do conhecido São João evangelista, ele foi chamado de São João Batista, porque batizou Jesus, o Filho de Deus, nas águas do Rio Jordão, na Palestina, onde Cristo viveu (Mt 3,13-15). A Igreja comemora tanto o seu nascimento, no dia 24 de junho, quanto o seu martírio, no dia 29 de agosto. Conforme o comentário de um historiador cristão, “o Batista é o primeiro santo canonizado ainda em vida pelo próprio Jesus. E João mesmo confirmou as palavras do Mestre com o martírio, porque Herodíades conseguiu receber a cabeça de João em uma bandeja, pensando calar para sempre aquele que representava a voz irreprimível da consciência humana” (Enrico Pepe). São João Batista sempre reconheceu com humildade e testemunhou que não era o Messias – o Cristo – quando questionado (Jo 1,19-23). E dizia: “Eu não o conhecia, mas aquele que me enviou para batizar com água, disse-me: ‘Aquele sobre quem vires o Espírito descer e permanecer é que batiza com o Espírito Santo’” (Jo 1,33). Quando Maria visitou a sua prima Izabel – ambas estavam grávidas – o menino pulou de alegria no seu ventre ao encontra-se com Jesus no ventre de sua mãe. Num missal de rito ambrosiano, encontramos uma expressão que traduz o sentido de sua vida e de sua existência: “Antes de ser concebido, tu lhe atribuíste um nome profético; antes que nascesse, ficou cheio do Espírito Santo. Ainda no ventre materno, mereceu ouvir a voz da Mãe do Senhor, e estremecendo de misteriosa exultação, saudou o início da humana redenção. Ele se tornou o precursor de Cristo, que o proclamou o maior entre os nascidos de mulher [Mt 11,11]” (Enrico Pepe). São João morreu para dar testemunho da verdade de Jesus Cristo, ao denunciar a união irregular de Herodes com sua cunhada, pois ela era a mulher de seu irmão Filipe (Mt 14,3-12). Como afirmou um amigo exegeta, com o irônico tom brincalhão de seu fino jogo de palavras, “João Batista perdeu a cabeça por causa de uma bailarina!”.
Ao longo da história do Cristianismo, os santos sempre deram testemunho de Cristo, às vezes, derramando o sangue por causa do Senhor e Mestre, que ensinou que “o discípulo não está acima do mestre, nem o servo acima do seu senhor” (Mt 10,24). Ainda hoje, o verdadeiro e autêntico testemunho cristão não poderá ser convincente sem a disposição para o sofrimento. Nesse sentido, o Papa Banto XVI tem uma palavra luminosa e esclarecedora: “Onde falta disponibilidade para sofrer pessoalmente, falta o tema decisivo da verdade, do qual a própria Igreja depende. Sua batalha será sempre e somente a batalha dos que aceitam sacrificar-se: a batalha dos mártires”. Foi, pois, assim, precursor de Cristo na vida e na morte, que São João Batista assinalou o legado da verdade com a tinta vermelha de seu sangue.
Finalmente, acenamos também sobre a figura de São Pedro, o primeiro Papa, cuja solenidade acontece no dia 29 de junho, ao lado de São Paulo. Foi sobre Pedro que Cristo edificou a sua Igreja, quando disse: “Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja [et super hanc petram aedificabo ecclesiam meam], e as portas do Hades nunca prevalecerão contra ela” (Mt 16,18). Segundo a Bíblia de Jerusalém, “aqui, as suas ‘portas’ personificadas evocam as potências do Mal que, depois de terem arrastado os homens à morte do pecado, encadeiam-nos definitivamente na morte eterna”. Todavia, voltando à figura de Pedro, Cristo o coloca como fundamento da comunidade escatológica ou messiânica, o novo povo de Deus, a Igreja de Cristo, cuja pedra angular e, portanto, fundamento principal, é o próprio Senhor. À vezes, encontramos tantas pessoas furiosas e azedas contra a Igreja de Cristo, contra o Papa, contra a doutrina cristã, que, até mesmo por interesses escusos e mal intencionados, preferem adequar-se às seitas de beira de esquina, contanto que satisfaçam todas as suas presunções e vontades libertinas. Há até quem diga que a Igreja descarta quem não pensa como ela, como outro dia eu li na Folha de São Paulo. O problema é que as pessoas não aceitam que a Igreja não pensa por si mesma, mas, por Deus, por Cristo que veio ensinar tudo o que ele mesmo ouviu de seu Pai: “Quem me rejeita e não acolhe minhas palavras tem seu juiz: a palavra que proferi é que o julgará no último dia, porque não falei por mim mesmo, mas o Pai, que me enviou, me prescreveu o que dizer e o que falar e sei que o seu mandamento é vida eterna. O que digo, portanto, eu o digo como o Pai me disse” (Jo 12,48-50).
Não obstante todas as nossas infidelidades e os nossos pecados, a missão da Igreja de Cristo no mundo é a de anunciar a verdade de Deus, que o ama a tal ponto de enviar o seu próprio Filho, não para condenar, mas para ser o Salvador de todos (Jo 3,16). Porém, ao anúncio dessa verdade revelada e reveladora, deve corresponder o esforço humano em colaborar com a graça oferecida. Essa foi a missão confiada aos Apóstolos por Cristo. Na verdade, o segredo da perenidade da Igreja, vencendo todos os percalços da história, é justamente a sempre renovada fidelidade do seu Senhor às suas promessas, pois, como diz o Apóstolo São Paulo, “se nós o renegamos, ele também nos renegará. Se lhe somos infiéis, ele permanece fiel, pois não pode renegar-se a si mesmo” (2Tm 2,12). Por sua vez, São Pedro – hoje presente na Pessoa do Papa Bento XVI – o guardião da fé da única Igreja fundada por Cristo, não pode deixar de confirmar os ensinamentos de seu Mestre, mesmo se contra todos os ventos de doutrinas que, qual cizânia, disseminam confusão e discórdia na mente dos ignorantes. Desse modo, procurando pegadas cômodas e facilitadoras de nossa vontade, com frequência, comportamo-nos como Pedro diante do anúncio da paixão do Senhor. Ele “escandaliza-se e protesta, provocando uma reação agitada no Senhor (cf. Mc 8,32-33). Pedro quer um Messias que seja ‘homem divino’, que cumpra as expectativas das pessoas mostrando a todos seu poder: também o nosso desejo é que o Senhor mostre o seu poder e transforme rapidamente o mundo; mas Jesus apresenta-se como o ‘Deus humano’, o servo de Deus, que revolucionou as expectativas das pessoas tomando um caminho de humildade e de sofrimento. É a grande alternativa, que nós também temos de aprender muitas vezes: privilegiar as nossas expectativas pessoais, deixando de lado Jesus ou acolher Jesus na verdade de sua missão e colocar de lado nossos anseios demasiadamente humanos” (Bento XVI).
Rezando ou brincando em homenagem aos ilustres santos supracitados, que não nos esqueçamos de que na origem de sua recordação está o testemunho salutar de seu amor a Cristo, nosso bendito Salvador. Boas Festas.